Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 31 de março de 2007

Artigo

O fogo é só na CEU?
por Leonardo de Almeida

A última quarta-feira, 28 de março, ficará para sempre na memória da UnB. O incêndio criminoso em três apartamentos de alunos africanos na Casa do Estudante Universitário (CEU) trouxe à tona uma situação que há muito tempo é negligenciada por nossa Universidade. Racismo e xenofobia, além de outros descasos com moradores da CEU, estão em pauta.

Na tarde do mesmo dia, centenas de alunos, munidos de tambores improvisados e cartazes contra a ignorância, racismo e a xenofobia, marcharam em protesto aos atentados ocorridos pela manhã. Ao anoitecer, reuniram-se na Reitoria e reivindicaram mais segurança e políticas anti-racismo. As medidas propostas pelo reitor Timothy Mulholland foram desanimadoras: um vigilante por pavimento da CEU, instalação de câmeras de segurança e transferência dos alunos africanos para um abrigo provisório. Mulholland não quis pedir desculpas por tanta desatenção. “A última vez que eu pedi desculpas aqui para um número [de pessoas] tão grande quanto esse foi por não aceitar provocações”, disse ele.

Embora a resposta da Reitoria não tenha sido satisfatória durante a manifestação, a Universidade lançou o Programa Institucional de Combate ao Racismo e à Xenofobia na UnB – A indignação é maior que o medo. O objetivo é denunciar e combater o racismo. O primeiro encontro será nesta segunda-feira, 2 de abril, às 14h, na sala de reuniões do Decanato de Extensão, no 2º andar da Reitoria.

O racismo na UnB nunca foi novidade. O debate é antigo. A diferença está na forma como iremos tratá-lo a partir de agora. A política de cotas, desde o início, desviou o foco das discussões. A verdadeira proposta é a incorporação do negro na universidade pública, e não o fim do racismo propriamente dito. Sempre que se toca na questão racial, a política de cotas surge como argumento apaziguador. Não se acaba com a segregação apenas dando oportunidade ao negro. Isso é o mínimo que se pode fazer após séculos de descaso. É preciso conscientizar, incorporar o combate ao racismo à educação desde as séries iniciais. Apenas com a modificação do sistema será possível mudar um quadro tão infame. Episódios como o de quarta se repetirão. Para tentarmos acabar com essa vergonha, devemos assumir a culpa e ao menos pedir desculpas aos que sofrem.

Nenhum comentário: