Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Crônica

Metrópole - Mãe
por Gabriel Castro

Há 1972 anos, Saulo de Tarso se convertia ao Cristianismo e passava a ser chamado de Paulo, o Apóstolo. Virou Santo. 453 anos atrás, no dia do Santo, nascia a Vila de São Paulo de Piratininga. Há 19 anos, nasci eu. Na Maternidade da Mãe Pobre, em Mogi das Cruzes.

Sou, portanto, um quase-paulistano. Nasci numa cidade-satélite e só morei lá por 3 anos. Fui descobrir São Paulo aos poucos, depois de muitas idas. E a entendi. A cidade é o ponto de convergência do Brasil. As múltiplas culturas do país se misturam ali, na capital do maior estado da nação.

Sou obrigado a negar a condição de Brasília como capital cosmopolita. Brasília não tem bairro judeu. Nem restaurante romeno. Nem comunidade de chineses. Tem só uns poucos estrangeiros plastificados, diplomatas em trânsito. Brasília não tem João Rubinato.

São Paulo é feita, desde sua gênese, de sangue mestiço O ímpeto dos bandeirantes, a bravura dos índios, a compaixão dos jesuítas e a força dos negros. É herdeira dos italianos, dos espanhóis, dos japoneses, dos portugueses, dos nordestinos, dos bolivianos... Não é uma cidade, sequer uma nação. É síntese de nações.

Andando por São Paulo, é possível presenciar uma parte importante do Brasil nos últimos cinco séculos – e a história do planeta nos últimos dois. Brasília tem cinqüenta anos. O Rio de Janeiro só existe de verdade há 200. São Paulo tem quatro séculos e meio. E consegue manter uma beleza simplória; em meio ao caos, a vida se destaca. Para a maioria das pessoas, é difícil gostar da cidade. Mas só porque ela é parecida demais com nós mesmos. Insuportavelmente. Contraditoriamente.

Terra de Paulo Maluf e dos Titãs, de Adoniram Barbosa e dos skinheads. Dos engarrafamentos e da pobreza. Da Osesp e de Ayrton Senna. Do medo e da pressa. São Paulo é a tradução da nossa insanidade – e a comprovação viva de que sobreviveremos a ela.

Você não gosta de São Paulo, eu sei. Tudo bem. Mas, pelo menos hoje, sinta-se agradecido e diga parabéns à cidade. Afinal, uma velha senhora de 453 anos merece respeito. (Já eu, que hoje faço 19, não mereço mesmo respeito nenhum)

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto poético e sutil. Um belo cartão de Feliz Aniversario.