Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Futebol!

Um alerta à OMC

por Vitor Matos

À fogueira com os livros de História. Quem leu os capítulos sobre os primeiros contatos entre índios e portugueses ― nos quais os nativos trocavam o valioso pau-brasil por miçangas cretinas trazidas pelos adventícios ― pode se enganar quanto à verdadeira habilidade do brasileiro para o comércio. A inocência do escambo há muito ficou para trás. Hoje o Brasil domina como ninguém a sutil arte de vender bem. Recorramos ao futebol para melhor entender esse fato.


Suponho que o leitor conheça um rapaz chamado Alexandre Pato. É difícil nunca ter ouvido falar no tal, porque agora ele é a coqueluche do futebol brasileiro. Um jovem de 17 anos, ainda desprovido de barba, que de uma hora pra outra virou a atração máxima dos noticiários esportivos. Já pintam o Pato como a mais grata revelação do nosso futebol nos últimos anos, quiçá décadas. E o mais surpreendente, ele ainda não fez nada para justificar o frenesi. Surgido para o mundo no apagar das luzes do ano passado, Pato sequer chegou a jogar uma partida inteira pelo Inter de Porto Alegre, seu clube. Neste mês de janeiro tem atuado pela Seleção brasileira Sub-20, no sul-americano da categoria, disputado no Paraguai. Também lá o jovem Pato ainda não conseguiu justificar a sua fama.


Os arquivos do futebol brasileiro estão repletos de casos de jogadores que surgem rodeados de boas expectativas, alardeados e exaltados pela imprensa. Esses atletas, ainda jovens e credenciados pelos elogios exagerados da mídia, são vendidos por um bom preço a times europeus, antes mesmo de consolidarem o seu bom futebol. Chegando na Europa, na maioria das vezes decepcionam. Foi o que aconteceu com o Denílson, lembra dele? Quando apareceu no São Paulo, lá pros idos de 97, o garoto dava sinais de que ia ser o novo Pelé. Arisco, driblador, cheio do molejo. Sua transferência para o Bétis, inclusive, foi a mais cara já efetuada por um clube brasileiro até então. Parecia que Denílson iria tomar conta do mundo da bola. Nada disso. Na Europa ele jamais conseguiu repetir as atuações deslumbrantes do início da carreira. Sua decadência foi lenta e agoniosa. Hoje em dia ele só aparece para o grande público em peladas de fim de ano. Nada garante que o futuro do Pato seja menos melancólico que o do Denílson.


Mas isso de pouco importa. O que fica de lição em toda essa situação é o quanto o brasileiro sabe trabalhar bem o marketing em torno dos jovens jogadores. A perícia chega ao ponto de fazer atletas medianos parecerem supercraques. O Milan da Itália não perdeu tempo e já tem representantes no Paraguai para acompanhar de perto o desempenho do Alexandre Pato. E tudo indica que o clube rossonero vá mesmo desembolsar 15 milhões de dólares para contar com o jogador no seu elenco já para os próximos meses. E, no final das contas, se o Pato não corresponder à dinheirama nele investida, problema dos italianos. O prejuízo fica por lá.


É o futebol descontando com juros e correção monetária o déficit gerado por cada espelhinho que veio como pagamento de pau-brasil.

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