Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 11 de novembro de 2006

Artigo

Crises de um de um sistema em estágio terminal
por Ânderson Corrêa

Foram quatro dias de tráfego mais tranqüilo nas vias do DF. Essa é a visão daqueles que têm e usam carros de passeio para se locomover. Quatro dias de atrasos, transtornos, aborrecimentos e de longas esperas. Esse é o ponto de vista de alguns usuários de transporte alternativo. Quatro dias de mais segurança e conforto só com os ônibus circulando, se é que essas características podem ser atribuídas aos meios de transporte do Distrito Federal. É como vêem outros usuários. Foram quatro dias que os idosos não ouviram “passageiro cheque sem fundo”. Enfim... São as múltiplas visões que remetem ao mesmo problema.

O impedimento das vans é apenas um dentre vários episódios que fazem o óbvio saltar aos olhos até mesmo de quem não vê. Há muito que o sistema de transporte coletivo do Distrito Federal dá sinais de decadência. Seria inútil utilizar esse espaço somente para tentar enumerar os incontáveis problemas que permeiam a questão e depois ficar lamuriando. O momento é propício para uma reflexão mais aberta, mais ampla, capaz de depurar as deficiências e situá-las no novo contexto, com um GDF recém-eleito.

Desde o início, o projeto de utilizar vans como transporte de massa foi uma iniciativa provisória voltada para suprir as necessidades da crescente população do DF e Entorno, ou melhor, explosiva população. São mais de dois milhões de habitantes, dos quais grande parte utiliza transporte público. Na verdade, a expansão urbana não criou estruturas suficientes e capazes de assistir às demandas sociais satisfatoriamente. Tudo isso é uma problemática sem limites. Basta partir de questões pontuais para atingir níveis máximos de complexão.

Entre decisões conflitantes do Judiciário, que se esconde atrás da burocracia para justificar a ineficiência, e os permissionários está o maior prejudicado: o cidadão. É sempre ele. Aquele que arca com uma das maiores cargas tributárias assume o ônus da inoperância da máquina estatal. É como se não bastasse o risco constante de estar dentro das lotações viajando ao (des)controle de motoristas irresponsáveis e cobradores pouco cordiais. Logicamente, existem exceções; são pais de família em busca de uma vida melhor nesse mundão de meu Deus.

Mas o que se pode esperar de um país onde estoura esquemas de corrupção a cada quinze dias? É mensalão. É esquema dos Bingos. É esquema dos Correios. É Sanguessuga. É Vampiroduto. É o diabo a quatro! E o povo já pode ir se preparando para as mais novas investigações do TCU, que vão averiguar a existência de irregularidades na concessão de emendas empenhadas pelo Governo Federal aos deputados e senadores para fins de apoio político. Isso tudo pra dizer que é o dinheiro público que está em jogo. Dinheiro que, bem empregado, garante não só a eficiência do sistema de transporte, mas uma vida digna.

O Governo Arruda, que ainda nem começou o mandato, apresentou propostas que são muito exeqüíveis à primeira vista. Pelo menos é isso que a maioria conseguiu deduzir do período eleitoral. Resta saber se veremos melhorias na malha viária, frotas, nos itinerários, nos pontos de ônibus, no metrô – ligando áreas isoladas aos pontos estratégicos – na rodoviária... É hora de acompanhar com olhos de lince. Está feito. Você que “Arrudeou”, verifique, cobre; e você que não, também.


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