Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 11 de novembro de 2006

Dia do leitor

Série Contos Metropolitanos*
por Arthur Andrade

Um Cubo não pode ser Vermelho

À portada do metropolitano, um pé ainda fora, dentre cores fugidias um brilho rubro chega-me à vista. Um cabelo, uma cabeça, um corpo a movimentar-se fluído pelo mar colorido de pele, pelos e películas. As vistas tornam-se câmera a acompanhá-lo, o Mar Vermelho, mais vermelho que o sangue das águas de Moisés, mais dramático que o de Cristo. Vai indo, duvidando de uma parada para comprar as passagens, que, para alegria do ritmo fílmico, não se realiza. Todavida até passar pelas borboletas, cinzas, então desreluzidas pelo rubro lumbre. A correnteza continua a reempuxar, gotas – transparentes – pingam na tela d’arte bela, a cor ultra-vermelha a atravessá-los, insistente. Rumo final ao trem, tentando a câmera diminuir as distâncias dela com a atriz principal, contra gotas e correntes. Não se contentaria o cubismo a pintar apenas costas, uma feição de múltiplas fases – e face – se era desejada. O passo acelera; no último minuto preferindo a rolante à imóvel; pois rolava sobre ela aquela bola de pêlo ruivo, e como mimoso gato mimado semi-corria a empatá-la. Últimos toques de uma pintura, pára, com as vestes negras a combinar com a bolsa e a contrastar com os cabelos, ao pé da escada ... (Último toque! Prestes a pintar outra fase, uma face! Ruivo clímax.)

...

Cinza anticlímax, ao pé da escada um mancebo a esperava, para recebê-la. Correr contra a corrente, ora impossível. Rola ... rola, a bola. No impulso irrefreável, transpasso aquela fisionomia que de bola nada tinha; e, em mente, exclamo em seguida:
- Meu Deus!Que tremenda!

...

A câmera desliga-se e apenas o esteta filmador dirigindo-se indiferente à porta do trem.
- Ainda bem não ser cubista ...


*Contos, crônicas escritas ou pensadas a partir das rotineiras viagens de metrô pelo escritor.

Arthur é estudante do terceiro semestre de Jornalismo da UnB

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