Artigo
Crises de um de um sistema em estágio terminal
por Ânderson Corrêa
Foram quatro dias de tráfego mais tranqüilo nas vias do DF. Essa é a visão daqueles que têm e usam carros de passeio para se locomover. Quatro dias de atrasos, transtornos, aborrecimentos e de longas esperas. Esse é o ponto de vista de alguns usuários de transporte alternativo. Quatro dias de mais segurança e conforto só com os ônibus circulando, se é que essas características podem ser atribuídas aos meios de transporte do Distrito Federal. É como vêem outros usuários. Foram quatro dias que os idosos não ouviram “passageiro cheque sem fundo”. Enfim... São as múltiplas visões que remetem ao mesmo problema.
O impedimento das vans é apenas um dentre vários episódios que fazem o óbvio saltar aos olhos até mesmo de quem não vê. Há muito que o sistema de transporte coletivo do Distrito Federal dá sinais de decadência. Seria inútil utilizar esse espaço somente para tentar enumerar os incontáveis problemas que permeiam a questão e depois ficar lamuriando. O momento é propício para uma reflexão mais aberta, mais ampla, capaz de depurar as deficiências e situá-las no novo contexto, com um GDF recém-eleito.
Desde o início, o projeto de utilizar vans como transporte de massa foi uma iniciativa provisória voltada para suprir as necessidades da crescente população do DF e Entorno, ou melhor, explosiva população. São mais de dois milhões de habitantes, dos quais grande parte utiliza transporte público. Na verdade, a expansão urbana não criou estruturas suficientes e capazes de assistir às demandas sociais satisfatoriamente. Tudo isso é uma problemática sem limites. Basta partir de questões pontuais para atingir níveis máximos de complexão.
Entre decisões conflitantes do Judiciário, que se esconde atrás da burocracia para justificar a ineficiência, e os permissionários está o maior prejudicado: o cidadão. É sempre ele. Aquele que arca com uma das maiores cargas tributárias assume o ônus da inoperância da máquina estatal. É como se não bastasse o risco constante de estar dentro das lotações viajando ao (des)controle de motoristas irresponsáveis e cobradores pouco cordiais. Logicamente, existem exceções; são pais de família em busca de uma vida melhor nesse mundão de meu Deus.
Mas o que se pode esperar de um país onde estoura esquemas de corrupção a cada quinze dias? É mensalão. É esquema dos Bingos. É esquema dos Correios. É Sanguessuga. É Vampiroduto. É o diabo a quatro! E o povo já pode ir se preparando para as mais novas investigações do TCU, que vão averiguar a existência de irregularidades na concessão de emendas empenhadas pelo Governo Federal aos deputados e senadores para fins de apoio político. Isso tudo pra dizer que é o dinheiro público que está em jogo. Dinheiro que, bem empregado, garante não só a eficiência do sistema de transporte, mas uma vida digna.
O Governo Arruda, que ainda nem começou o mandato, apresentou propostas que são muito exeqüíveis à primeira vista. Pelo menos é isso que a maioria conseguiu deduzir do período eleitoral. Resta saber se veremos melhorias na malha viária, frotas, nos itinerários, nos pontos de ônibus, no metrô – ligando áreas isoladas aos pontos estratégicos – na rodoviária... É hora de acompanhar com olhos de lince. Está feito. Você que “Arrudeou”, verifique, cobre; e você que não, também.
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