Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


terça-feira, 17 de outubro de 2006

Semana de Extensão

Mídia e Política: uma ligação econômica
por Isabel Vilela
fotos: Felipe Néri

Começou hoje a VI Semana de Extensão da Universidade de Brasília (UnB). Com o tema “Criatividade e Produção do Conhecimento”, a Semana, realizada pelo Decanato de Extensão, oferece 221 atividades gratuitas e abertas ao público. A Faculdade de Comunicação (FAC) abriu sua participação com a realização do debate “Mídia e Política” sob coordenação do professor Luiz Martins.

A atividade aconteceu no auditório da FAC e teve início às 8h30min com a exibição do filme “Boa noite e boa sorte”, que conta a história de um repórter televisivo dos Estados Unidos, Edward R. Murrow, que denuncia as mentiras e as práticas abusivas do Senador Joseph McCarthy durante a “caça às bruxas” comunista. Com as denúncias, Murrow e sua equipe desafiam a emissora e os patrocinadores e conquistam a fúria do Senador, que revida acusando o próprio Murrow de comunista.

Estudantes lotaram o auditório da FAC

Após a exibição do filme, teve início o debate mediado pelo professor Luiz Martins, com a participação dos jornalista Roberto Seabra, que escreveu o livro “Jornalismo Político – teorias, histórias e técnicas” e dos professores da UnB, Célia Ladeira e Luiz Gonzaga Motta, que é também coordenador do NEMP (Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política, da UnB).

Professores da FAC e Roberto Seabra (esquerda) compõem a mesa de debate

A discussão, que teve vários eixos, frisou como grande problema da imprensa a sua subordinação a interesses econômicos. Para o jornalista Roberto Seabra, a oposição entre dois grandes grupos de imprensa, que existiu em quase todos os períodos da história do Brasil, foi extinta e substituída por uma união em torno de interesses financeiros: “Hoje eu vejo a grande mídia fechada, unida em torno do propósito de ganhar dinheiro”, afirmou. Já para o professor Luiz Gonzaga Motta, essa não é uma característica apenas da mídia. Atender às necessidades do mercado é uma tendência da sociedade em geral: “Eu penso que a ideologia da mídia brasileira faz parte de um projeto ideológico maior, é o projeto da democracia liberal, que reza pela cartilha do mercado”.

Quanto à cobertura das eleições deste ano, o professor Luiz Martins citou a capa da revista Carta Capital deste mês, sobre a manipulação em torno do dossiê e levantou a questão da importância exacerbada atribuída às fotos do dinheiro encontrado pela Polícia Federal. A professora Célia atribui essa importância ao fato de que “a imagem é a grande peça iluminista da notícia”, é uma ferramenta da tendência iluminista que o jornalismo possui de organizar o caos.

Foram discutidas também outras questões, como a imagem que a mídia construiu dos candidatos Lula e Alckmin, a influência das pesquisas eleitorais, a falta de transformações no Brasil, a omissão da imprensa nas questões relativas à segurança pública, e a validade ou não do que os candidatos prometem nas campanhas.

Em suas considerações finais, Roberto Seabra alertou o público para a necessidade de se dividir o “bolo da comunicação”, buscando meios alternativos para ampliar o espaço do jornalista, que vem se reduzindo com a concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucos.

Em seus discurso final do filme, o personagem Edward R. Murrow endossa essa idéia de subordinação econômica e incita os jornalistas a não propagarem esse modelo de imprensa. A todos que aceitarem o desafio, boa noite e boa sorte!

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