Dia do Leitor
Uma Bebedeira Coletiva
por Diogo Ramos Coelho
Em Dezembro de 1991, publicou The Economist uma reportagem que explicava a crise que outrora nos assolava como uma “bebedeira coletiva”. Hoje, os setores políticos representativos de nossa sociedade parecem ainda se encontrar como embriagados num labirinto ou como cães tentando morder o próprio rabo. As denúncias de corrupção esvaecem-se “aos litros”, incrementando, contudo, a formação de uma cirrose institucional.
Há pouco mais de dez anos, o impeachment do presidente Collor pareceu a muitos como um golpe definitivo na promiscuidade política. E se, como facilmente constatamos, as instituições públicas das praias de Pindorama não se tornaram abstêmias de temerária degeneração, resta-nos voltar nossos olhos - e nosso fígado! - para os sintomas internos de entorpecentes práticas de gangsterismo, roubalheira, irresponsabilidade e primitivismo, além do constante caldo de cultura terceiro-mundista diariamente vomitado pelos mesmos bêbados agentes políticos.
O cultivo de grande parte da nossa política nos desvãos do coletivismo, do mandonismo centralista e clientelista de Brasília, das permanentes interferências estatais sobre as escolhas dos agentes econômicos, do assistencialismo barato, do parasitismo burocrático, não nos permite perceber que talvez o governo mais proveitoso seja exatamente aquele que menos aparece e - conforme ensina Tocqueville - habitua os governados a dele não precisar.
Gerir o Estado pressupõe uma licença ética. Ou seja, assim como afirmam quase todos os notórios filósofos de nossa história, o poder é sujo e exercê-lo pressupõe estômago forte e nariz de urubu. Querer que o Estado dê mais que ele pode dar, juntamente com instituições políticas coesas, com um judiciário eficaz, com uma economia desenvolvida, sem os custos do aparelhamento da máquina pública, de impostos pesados, do protecionismo corporativista e, conseqüentemente, livre do fomento da corrupção oficial, da politicalha e de todas as mazelas oriundas dessa conjuntura, é irreal e estúpido.
O Estado foi concebido para o benefício dos indivíduos e não o inverso – como crêem os potentes estupradores da nossa República. Foram - e são ainda! - anos e mais anos em que o Ogro Filantrópico tupiniquim gastou desnecessariamente onde não era necessário que o fizesse, deixando de gastar em setores que se fazia necessário; foram anos em que o planejamento da economia embebedou-se com porres homéricos de inúteis regulamentos, instruções, reservas de mercado, proibições, subsídios, controles de preços, barreiras aduaneiras e o domínio do PIB pelas estatais, com um sistema tributário que mais parece um manicômio, com setenta (!) tributos, uma carga tributária inaceitável, que beira os 40% do PIB, mas que chega perto dos 70% se a ela acrescentarmos os gastos com educação, saúde, autoproteção e os custos da corrupção e inadimplência.
Não existe, afinal, Estado bonzinho. O único Estado “menos ruim” é o Estado mínimo. Quantos, contudo, ainda não clamam pelo incremento da estrutura patrimonialista em vigor, estimulando o crescimento do Estado e de sua classe burocrática ociosa, em virtude de um modelo socioeconômico “desenvolvimentista” e das célebres questões sociais? Deixemos, então, as esperanças do progresso serem, mais uma vez, frustradas por políticos incompetentes e, como bem percebemos, freqüentemente corruptos. Continuemos com a mesma bebedeira coletiva! Quem sabe ainda não tornamos o Brasil numa grande repartição?
Diogo Ramos Coelho é estudante de Relações Internacionais na UnB
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