Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 27 de setembro de 2006

Coluna - Futebol

É de arromba!
por Vitor Matos

Estou quase terminando de ler “Os Maias”, de Eça de Queiroz”. Uma obra digna de ser citada nessa coluna, seguramente. E não é só o tórrido e proibido amor de Carlos e Maria Eduarda que enche os olhos do leitor. Há ali também muita crítica, crueza, põe-se um dedo na ferida. Porque, por trás dos beijos e das poesias, Eça de Queiroz pinta, como pano de fundo, uma sociedade lisboeta apodrecida e decadente. As ruínas de Portugal. Sombra do outrora magnífico Império náutico, entregue à desesperada espera de D. Sebastião para lhe restaurar a glória.

E vendo os relatos de Eça de Queiroz cheguei a uma linda conclusão: os países prósperos, são, cada um, prósperos à sua maneira. Os infelizes, por sua vez, são todos iguais na sua desgraça. Porque não há diferença entre o lamaçal que envolvia Portugal em fins do século XIX e aquele em que estamos mergulhados hoje, século XXI, no Brasil. Políticos corruptos, inescrupulosos, interesseiros e incapacitados. Ensino escolar e universitário antiquados. Falência total das instituições políticas, administrativas e sociais. Sem falar na miudez da mentalidade burguesa. Todos os esforços, todo o dinheiro, todo o pensamento, voltados para eventos da alta sociedade, amores fugidios e debates incipientes. Tem-se o atraso.

João da Ega, o personagem mais eloqüente e satírico do romance, defendia, apaixonadamente, as vias revolucionárias para sacudir o pó que emperrava Portugal. Ega queria ver sangue, suor e sofrimento. E quem sabe se, das asperezas da guerra, o país não ressurgia mais digno? Não desse certo, dizia Ega, eles se entregavam para a Espanha e viveriam felizes na sua mediocridade de província castelhana. Ele sempre terminava seus discursos com um rotundo “É de arromba”! Ninguém fica insensível diante do Ega.

Domingo, temos a chance de tentar melhorar o Brasil sem precisar apelar à violência. (Virar um estado da Argentina, já pensou?). Não tem nem futebol no domingo. Nada de Galvão, nada de Maracanã, nada de juiz ladrão. Nadinha. O dia é das eleições. Está cada vez mais difícil acreditar na democracia brasileira, eu sei. Chega a ser temeroso votar em alguém, porque amanhã ou depois ele pode ser um sanguessuga, eu sei. Mas, já que não tem rodada do Brasileirão no dia 1o , custa levantar do sofá pra ir fazer uma fezinha na urna eletrônica?

Eu vou acordar bem cedo, botar uma camisa do Flamengo ― a 7, do Obina, ― e me dirigir à zona eleitoral. Quem se acostumou a ver, todo ano, seu time fugir milagrosamente do rebaixamento, ainda acredita na política brasileira.

P.S.1: Ou talvez eleições sejam coisa de iludido; futebol não passe de assunto de alienado e o livro “Os Maias” seja uma porcaria, boa mesmo foi a minissérie.

P.S.2: Grileiros, corruptos, chorões, traídos, paizões, profetas, chefões, desvirginadores de painel... É de arromba!

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa mas, cadê o futebol? A coluna devia ser chamar "Coluna Vítor Matos".

Anônimo disse...

Chic a valer!

Anônimo disse...

a gente ama o Vítor!