"Outra comunicação é possível"

Estudantes de Comunicação se reúnem em Salvador e discutem o combate às opressões e a construção de uma nova sociedade
por Felipe Néri

fotos: Emília Silberstein, Felipe Néri e

www.enecom.multiply.com

O tema central era simples e direto: a possibilidade de uma outra comunicação. Mas os diversos desdobramentos do XXVIII Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação (ENECOM) foram incontáveis. De a 6 a 12 de agosto, 1400 estudantes de todo o país se reuniram em meio a oficinas, núcleos de vivência, palestras, simpósios, mostras de cinema e fotografia, painéis de discussão e festas diárias. Durante sete dias o campus da Universidade Federal da Bahia (UFBa) e diversos outros espaços da cidade de Salvador tornaram-se um canal aberto para o diálogo entre jovens.

Grupos de discussão reunidos no campus da UFBa

A luta do movimento estudantil pautada neste encontro foi a busca pela construção de uma nova sociedade e o combate às opressões. A partir desta premissa, desenvolveram-se vários debates, que contaram com a participação de profissionais da Comunicação, representantes políticos e formadores de opinião. Diversos embates se iniciaram, principalmente por se tratar de um espaço em que representantes de diferentes e, algumas vezes, opostos grupos políticos buscavam se manifestar.

Estudantes produzem fanzine durante oficina

Outro aspecto de grande relevância para o encontro foi a proposta dos núcleos de vivência. Reunindo cerca de 30 pessoas cada um, eles permitiam a saída da Universidade para que os participantes pudessem entrar em contato com projetos que beneficiam a comunidade soteropolitana. Excelentes ambientes de aprendizado puderam ser explorados, também, com as atividades de produção. Uma grande variedade de temáticas foi proposta, envolvendo desde análise de telenovelas até jornalismo investigativo.

Edgard Navarro: "Eu não tenho tempo pra pensar no sistema"

Um dos momentos de grande polêmica no encontro foi a conversa com o cineasta baiano Edgard Navarro, premiado por seu longa Eu me lembro no último Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Após a exibição de três de seus curtas, o diretor se exaltou com alguns estudantes que exigiam uma posição política de Navarro. “Eu não tenho tempo pra pensar no sistema, minha preocupação é com a arte”, enfatizou.

Estudantes na manifestação contra o ENADE

Na quarta-feira, dia 9, ocorreu uma manifestação promovida pelos estudantes. Saindo da reitoria da UFBa em direção ao centro histórico de Salvador, os manifestantes gritaram contra o ENADE(Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e as formas de opressão na comunicação. Enquanto motoristas e policiais se irritavam com o ato político, muitas pessoas acenavam de suas casas e escritórios como forma de apoio.

Fila para o almoço no último dia de encontro

Apesar de tantos aspectos positivos, o ENECOM foi marcado por grande desorganização. Muitos participantes não conseguiram se inscrever nas oficinas e nos núcleos de vivência, atividades foram canceladas e os atrasos constantes. As longas filas no refeitório obrigavam os estudantes a esperar em média uma hora pela alimentação. Houve falta de água, que impediu tanto a utilização de alguns bebedouros quanto de chuveiros. E uma reclamação que se tornou unânime foi a ausência de esclarecimentos quanto aos eventos por parte da Comissão Organizadora.

Fosse por meio da atuação efetiva no encontro ou pelo turismo barato na capital baiana, o ENECOM permitiu o contato com alunos de diferentes instituições e o pensar na função da própria Comunicação Social. Como afirmou Renata Brasil, estudante baiana de Publicidade: “Nosso curso é Comunicação, mas ainda nos comunicamos muito mal”. Talvez seja esta a hora da sociedade perceber que uma outra comunicação é realmente possível.