Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 16 de agosto de 2006

Coluna - Futebol

O Brasil no país das Maravilhas
por Vitor Matos

Viver na Noruega é habitar uma impecável mansão. Os jardins meticulosamente cuidados e planejados, florescendo pontualmente a cada primavera. Os cômodos fartos de mobília luxuosa e tapeçaria oriental. Nada destoa, nada fora do lugar. Não há criancinhas catarrentas correndo pelo quintal, não há marido roncando no sofá. Nem sequer existem mordomos para servirem de bode expiatório (mesmo porque nenhum delito é cometido por ali). Para muitos, essa é a descrição exata do lugar ideal. Contudo, alguns noruegueses se cansam de tanta perfeição e tranqüilidade: acabam cometendo suicídio. Outros, em busca de adrenalina, vêm para o Rio de Janeiro. No final, o resultado é o mesmo.

Mas, hoje à tarde, é a diversão que vai até a Noruega. Por uma ajuda de custo de 1,5 milhões de dólares a Seleção Brasileira se apresentará em Oslo, para um público de 25 mil pessoas. O jogo não vale absolutamente nada, é só mais um amistoso para engordar os cofres da CBF. Nossos jogadores praticamente não treinaram para a partida e a probabilidade de apresentarem um futebol desconexo é enorme. Para piorar um pouco ― principalmente para os noruegueses, que esperavam nossa força máxima ― estrelas como Ronaldinho e Kaká nem foram convocadas. Em suma, fosse um filme no caderno de cultura, esse jogo receberia uma estrelinha. Mesmo assim, se você não tiver nada pra fazer entre 3 e 5 da tarde, não custa nada prestigiar a peleja.

Pra não dizer que não falei das flores, a estréia do Dunga à frente do comando técnico da Seleção é um atrativo até razoável para esse amistoso. Aliás, o dito Dunga me lembra muitíssimo Harald Hardrada, o famoso rei norueguês do século XI. Obstinado, furioso, lutador. Hardrada era o viking típico. Conquistou terras, angariou o respeito dos seus súditos, ganhou reputação. Dunga, como jogador, também escreveu ― na base da força ― seu nome na história. Nunca foi brilhante nem sutil, mas compensava a rudeza do seu jogo com aplicação tática, bravura e muita dedicação. Além disso, foi o capitão na batalhada conquista do tetracampeonato. Saber se Dunga repetirá, enquanto técnico, o sucesso que teve na carreira de atleta, é algo ainda incerto, mesmo porque trata-se do início de um trabalho. Não podemos é tirar conclusões precipitadas ou pedir sua cabeça em caso de uma eventual derrota hoje. Nem Harald Hardrad ganhou todas as batalhas que disputou.

P.S.1: Segundo o site http://www.bacalhau.com.br/, o peixe que nós chamamos de bacalhau do Porto é, na verdade, proveniente da Noruega, e não de Portugal.

P.S. 2: Falta descobrirem que o Robinho nasceu em Oslo.

P.S. 3: Harald Hardrada morreu em 25 de setembro de 1066, na batalha de Stamford Bridge, Inglaterra.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu adoro o vítor
ele é ótimo