Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 5 de julho de 2006

Artigo

TECNOLOGIA NISSEI
por Carolina Martins

Enfim, no último dia 29 acertou-se que o modelo de televisão digital adotado aqui no Brasil será o japonês. É a vitória da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), que claramente sempre defendeu o modelo nipônico. Em entrevista cedida à Agência Brasil, José Inácio Pisani, o presidente da Associação, afirma que “analisando todos os modelos existentes no mundo, conclui-se que o padrão japonês era o mais adequado para situação brasileira, porque garante ao cidadão brasileiro a perenidade do modelo existente”. Tem certeza Sr. Pisani? Não seria porque garante a perenidade da concentração da mídia nas mãos das mesmas empresas?

Tecnologicamente, o modelo é realmente muito avançado; possibilita a transmissão digital em alta definição, a difusão para recepção fixa e portátil e ainda considera a tão benevolente interatividade. É isso que a mídia divulga e que realmente será um grande avanço, afinal, quem não quer televisão com imagem altamente definida no celular? Já pensou enfrentar a fila do RU assistindo “Barra Pesada” no seu telefone? Outro nível!

Mas um detalhe tem sido esquecido. Ao se privilegiar as transmissões em alta definição (HDTV), ocupa-se plenamente o espectro, perdendo assim a capacidade da multiprogramação, ou seja, a possibilidade de ampliar o número de canais fica limitada. O espaço eletromagnético será de fato melhor aproveitado, mas pelos mesmos canais de transmissão para dar uma qualidade seis vezes maior de imagem. Mas e o aumento na qualidade do conteúdo, pra onde foi? Ou ganhamos alguma coisa vendo o “Charme” de Adriane Galisteu seis vezes melhor?

Se todo esse espaço fosse usado para dar abertura a outras emissoras, outras programações, talvez o ganho fosse mais significativo. A democratização da televisão, o fim do monopólio de algumas poucas empresas é o real sentido da digitalização, é poder efetivamente dar poder de escolha ao espectador.

Essa discussão só está no começo. A escolha do modelo padrão apenas definiu que tipo de televisores será fabricado, resta saber o que será por eles transmitido. Nesse aspecto, o decreto que implanta a TV digital no Brasil já tem uma demarcação, a União terá o comando de quatro canais ditos públicos: Canal do Poder Executivo, usado para transmissão de atos, sessões, projetos e eventos do Poder Executivo – tem cara de “Hora do Brasil”, só que televisionada; Canal de Cultura, destinado a programações regionais e produções culturais; Canal de Educação, ensino a distância de alunos e aprimoramento da capacitação de professores; e o Canal da Cidadania, transmissão das programações das comunidades locais e divulgação de projetos e trabalhos dos poderes públicos, estadual e municipal. E cabe mais, muito mais.

O período de transição para o sistema digital será de dez anos, e as decisões tomadas acerca dessa nova televisão valerão, no mínimo, pelos próximos 50. É um momento importante, pois definir os novos rumos do maior veículo de entretenimento do país pode mudar todo um sistema. Não é certo deixar com que interesses comerciais e políticos determinem as diretrizes. O maior atingido é o povo, nós, que agora estamos sendo induzidos a pensar que o melhor está sendo feito. “Mas olha só que imagem bonita! Agora não precisa mais do bombril na antena! A novela tá pegando sem nenhum chuvisco”... e mais 50 anos aturando concurso do mecânico mais bonitão ou assistindo bizarrices sendo feitas em 30 segundos nas tardes dominicais.

Carolina é estudante do 2º semestre de Jornalismo na UnB e integrante do projeto de extensão da Universidade, SOS Imprensa.

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