Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 10 de maio de 2006

Coluna - Futebol

Mi-nho-ca !
por Vítor Matos

Na última semana, graças à chegada de seu novo CD à praça, Chico Buarque concedeu diversas entrevistas para os cadernos de cultura país afora. Em todas suas declarações notava-se um mesmo tom, a idéia principal que permeia o atual trabalho do cantor e compositor: o Rio de Janeiro precisa revigorar-se. A cidade que outrora fascinava e hipnotizava brasileiros e estrangeiros, que carregava em torno de seu nome uma aura de beleza paradisíaca e alegria, agora testemunha de camarote a própria e melancólica ruína. Segundo Chico, o carioca precisa ouvir o clamor do subúrbio, revisitar as suas origens, apegar-se à sua genuína cultura de modo a reerguer-se como uma das grandes metrópoles do país. Para o cantor, a decadência da cidade maravilhosa culmina com o fato de que, a cada dia, é mais dominada política, econômica e culturalmente por São Paulo.

No futebol, termômetro social da nação, não seria diferente. Há muito tempo que os clubes do Rio apenas apreciam passivamente o sucesso de seus rivais paulistas. Depois que o Vasco da Gama ganhou a Copa João Havelange, em 2000, os times cariocas não conquistaram mais nada que tivesse alguma expressão. Isso sem contar que, nos últimos dez anos, Flamengo, Botafogo, Fluminense e até o próprio Vasco convivem intimamente com o fantasma do rebaixamento no Brasileirão. O Bota e o Flu, inclusive, já conheceram o gosto amargo da Segunda Divisão nesse período. Falta de dinheiro? Talvez seja essa a razão, uma vez que os clubes cariocas, que nos campeonatos ocupam apenas as últimas posições da tabela, nas listas de devedores do governo são os primeirões incontestes.

Mas, se na música Chico Buarque tenta alavancar uma reviravolta, parece que no futebol o pontapé inicial já foi dado nesse sentido. Os times do Rio dão sinais de que, a duras penas, acabaram aprendendo um pouco da lição. Mostras disso são que Vasco, Flamengo e Fluminense classificaram-se para as semifinais da Copa do Brasil. No Brasileirão, onde quatro rodadas já foram jogadas, esses mesmos três times encontram-se entre os oito primeiros colocados, sendo que o Flu é um dos líderes do certame. Será o futebol carioca uma fênix, que agora resolve ressurgir das cinzas?

De qualquer modo, se a boa fase pudesse ser personificada num só jogador, ele seria Walter Minhoca, meia do Flamengo. O craque anelídeo da Gávea vem enchendo os olhos do público e da crítica com apresentações de gala, mesclando dribles desconcertantes, passes certeiros e arrancadas fulminantes. No último domingo, no clássico contra o Botafogo, a galera rubro-negra, extasiada diante do ídolo, não conseguia deixar de entoar um dos mais belos cânticos que o Maracanã já ouviu: “MI - NHO - CA , MI - NHO -CA” . Era de arrepiar. A continuar nesse ritmo, esse será um ano de dois hexas: o da Seleção e o do Flamengo. Seria a redenção total do futebol carioca.

P.S.: Segunda-feira o Parreira divulga a lista dos 23 convocados para a Copa. Existe uma dúvida quanto à última vaga do meio-campo. Alex, Ricardinho ou Júlio Batista? Quando põe a cabeça no travesseiro, eu sei que uma vozinha sussurra na consciência do treinador: “mi-nho-ca, mi-nho-ca...”

Vítor Matos é estudante de Comunicação Social na UnB.

Artigos e colunas são de responsabilidade de seus respectivos autores, não sendo, necessariamente, a opinião deste blog.

3 comentários:

Anônimo disse...

ca-man-du-ca-ia!

Anônimo disse...

"craque anelídeo", mto bom!

Anônimo disse...

"craque anelídeo", mto bom!