Mais cinema na UnB
Cinema Político alia entretenimento e debate
por Marco Prates
O maior mérito da universidade pública é a interdisciplinaridade, a possibilidade que estudantes possam adquirir conhecimentos jamais propostos pelos seus cursos de origem. A riqueza dos debates acadêmicos também proporciona insights que não existiriam à luz de um dia normal.
Por isso alguns estudantes têm acompanhado, todas as quartas-feiras, ao 12h, as sessões do Cinema Político, organizadas pelo Programa de Educação Tutorial (PET) do Instituto de Ciência Política (Ipol). O evento acontece na sala A106 da FA, sendo desenvolvido desde 2004. Nesse semestre, os filmes giram em torno do tema “Ditadura e Democracia na América Latina”. Em edições passadas, os temas, que mudam cada semestre, foram “História Política do Brasil”, seguido pelo “Eu Sou Contra” (miséria, fome, etc) e “Ditadura na América Latina”.
Nesta última quarta, o filme “Notícias de uma Guerra Particular”, de João Moreira Salles, encheu de indagações àqueles que estiveram presentes. Dilacerante, o documentário apresenta a violência do Rio de Janeiro sem maniqueísmos normais à mídia diária. A natureza violenta daquele mundo particular é dita por aqueles que a presenciam constantemente: moradores da favela, traficantes fortemente armados e a polícia. O filme está para o documentário assim como Cidade de Deus está para a ficção, mas sua realidade é digerida um pouco mais devagar, sem risos.
A premiada obra foi seguida por um debate com o professor Ph.D. em Harvard, Anthony Pereira. Pra lá de questões sobre a qualidade do debate, os alunos permanecentes trataram de itens que o filme havia proposto, para ser pensado e trabalhado: combate do tráfico sem controle da demanda, contraste entre o consumo da favela e da classe média, a polícia corrupta, alternativas para a miséria, entre outros.
Há três méritos conquistados pelo projeto que devem ser mencionados. Primeiro, o casamento entre entretenimento (sério) e debate faz com que o filme não fique perdido, contextualize-se e provoque uma atitude crítica, como alertou Gabriela Andrade, 23 anos, integrante do PET e no 9º semestre de Ciência Política. Segundo, ao abrir-se para toda comunidade acadêmica – alunos de Serviço Social, Sociologia, Economia, Letras, Comunicação Social e de muitos outros cursos estavam presentes nessa quarta-feira, por exemplo - e fazê-lo de maneira eficiente, não limitada aos interesses de cientistas políticos, o evento torna-se verdadeiramente atraente para toda universidade. Por último, mas não menos importante, a divulgação espalhada em cartazes grandes por toda a UnB faz com que o projeto não tenha sua bem intencionada operação relegada ao limbo.
Embora não haja debates todas as semanas e estes muitas vezes não se mostrem satisfatórios como poderiam, a iniciativa deve ser apreciada por aqueles que gostam de refletir sobre um bom filme. Na pior das hipóteses, sobra a diversão.
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