Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 11 de julho de 2007

Futebol!

Tive uma idéia
Por Vítor Matos

Isto não é uma demonstração de sentimentalismo barato, mas sinto falta de sorrir. Dar gargalhada mesmo, espontânea, rolar no chão. De uns tempos pra cá, rio só por etiqueta.

Não que eu seja um coração de pedra, insensível, amargurado, incapaz de enxergar alegria à minha volta. O mundo é que está ficando absurdamente sem-graça. Estão cada vez mais raras as surpresas, as atitudes polêmicas, os acontecimentos inusitados. Caminhamos para uma sociedade pasteurizada. Os dias se sucedem numa pontualidade irritante e nunca trazem consigo algum evento capaz de romper a previsibilidade ou agitar a modorra. A sensação de “eu já vi esse filme antes” se repete a cada 24 horas.

De fato, a humanidade perdeu a vontade de ousar. Talvez em nome do sucesso profissional, da preservação da espécie, da moral e dos bons costumes, sei lá, o fato é que as pessoas têm medo de inovar, contestar padrões, nos brindar com algo diferente. As iniciativas pioneiras acarretam maior risco, e, no século XXI, com seu mercado de trabalho altamente competitivo, uma vida pessoal cada vez mais ligada à profissional, não há espaço para tentativas malogradas. Então mergulhamos de cabeça no império do politicamente-correto, do conservadorismo, do tecnicismo, do sujeito robotizado e burocrático, porque assim nossas chances de não comprometer o futuro são maiores.

Dunga preenche esse perfil com perfeição. Ele tem nas mãos um dos únicos elencos no mundo capaz de oferecer ao público um futebol fantasia, lúdico e bonito. Dunga poderia me botar um sorriso no rosto. Mas não o faz, porque pra ele o que importa é a vitória, o resultado frio e matemático. Seu medo de perder nivela o jogo do Brasil ao dos times inferiores e mata o que o futebol tem de fundamental, que é a diversão.

Há esperança no meio do mar de mesmice e falta de criatividade em que estamos à deriva. Ontem, vi na Internet a notícia de que um indivíduo nos Estados Unidos tentou roubar um banco fantasiado de árvore. Muitos dirão “que imbecil! Ele por acaso achou que estava num desenho animado?”. E qual é o problema disso? Por que não podemos viver num desenho animado? Por que tudo tem que ser levado tão a sério, ao rigor das tradições, da lógica e dos padrões? É tanta a preocupação de se atender à cartilha da sociedade que a fruição da vida fica em segundo plano. Eu quero abraçar o cara da árvore. Portanto, tive uma idéia. Se o Brasil ganhar a Copa América no domingo, mesmo com aquele futebolzinho tacanho que o Dunga nos impõe, vamos mostrar o tanto que repudiamos seu pragmatismo cego. Ninguém comemora, ninguém solta foguete. Mais: quem for ao aeroporto receber o time deve vaiá-lo até os últimos acordes da garganta. Será lindo. Um time campeão e vaiado. É o pontapé inicial para mostrar ao mundo que, acima dos títulos, dos lucros e do currículo ainda está o sorriso.

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