Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 18 de julho de 2007

Futebol!

O Retorno da Fênix

Por Vítor Matos

No mundo existem três tipos de pessoas: as que são vaiadas, as que são aplaudidas e as que estão acima de qualquer manifestação terrena.

Em grupo, como parte de uma multidão, as pessoas geralmente ficam mais inclinadas a participar de atividades nas quais decerto não se arriscariam se estivessem sozinhas. Vide os pitboys no Rio de Janeiro e suas incursões escusas madrugada adentro. Ou ainda esses simpáticos peladões que vira e mexe animam os corredores aqui da nossa UnB.

Em estádios de futebol tal lógica se potencializa. Ali, mais do que em qualquer outro lugar, a voz do indivíduo escamoteia-se e fica diluída em meio ao coro geral, possibilitando a qualquer um que dê vazão aos seus pensamentos e instintos mais obscuros sem, no entanto, precisar arcar com as responsabilidades do ato posteriormente. Por isso é tão comum ver os bons meninos de durante a semana perderem a compostura em palavrões e obscenidades nas arquibancadas de domingo. Além do mais, cumpre lembrar que, de antemão, a maioria já vai para o estádio com a clara intenção de extravasar, tirar um sarro com quem quer que seja e soltar a franga.

Por isso o Lula não tem motivos para se chatear. As vaias para ele, na abertura do Pan, mais do que manifestação política, eram, na verdade, fruto duma milenar cultura dos estádios. Da mesma forma que todo juiz é chamado de ladrão assim que entra em campo e toda mulher na arquibancada – bonita ou feia – é aclamada como miss, todo presidente da República vai ganhar uma vaia quando aparecer nesse espaço consagrado aos craques. Assim está escrito.
Além disso, esse mesmo público carioca que achincalhou o presidente rendeu copiosos aplausos para o prefeito César Maia na fatídica cerimônia de abertura e para o quase técnico Dunga na ocasião em que desembarcava no Rio depois do título da Copa América. Em grupo as pessoas tomam atitudes que, decididamente, não dão pra entender.

É perfeitamente compreensível que existam essas figuras públicas extremamente dependentes do crivo popular, do apoio e do respaldo das massas. Tem gente que faz da ovação combustível de vida e sente-se profundamente apunhalada por qualquer manifestação contrária. Quando não se confia no próprio taco é assim mesmo.
Mas é claro que existem os entes superiores, muito acima de qualquer julgamento da sociedade, vaia, aplauso ou manifestações mundanas de qualquer espécie. Seres que atingiram o Olimpo do inquestionável, do irretocável, do absoluto. Obina é um deles.

Amanhã, depois de seis meses parado, ele volta ao futebol. É o retorno da fênix, renascida das cinzas para brilhar com ainda mais intensidade do que tinha antes da contusão no joelho. Um amigo meu bem disse que Obina já faz parte da fauna brasileira assim como o Macunaíma, a coxinha de frango e o aeroporto lotado. Ele é a graça do futebol brasileiro. Soube atravessar o período de dificuldade no Flamengo, quando era vaiado no Maracanã, para, enfim, converter-se em ídolo eterno da torcida e ter o nome gritado a plenos pulmões na arquibancada.
Obina e Lula precisam conversar qualquer dia.

Um comentário:

blog do CACOM disse...

Para quem sentiu falta da coluna da semana passada, est� aqui.

Um olhar cr�tico sobre a sociedade baseado em um sentimentalismo apurado de V�tor Matos.