Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 9 de junho de 2007

Entrevista

Retrato em branco e preto

Entrevista com Alan e Alex, os gêmeos que expuseram a fragilidade de um sistema

Por Igor Pereira
Foto concedida
sem créditos pelos entrevistados



Alçados à fama por uma inexplicável falha do processo de seleção dos candidatos ao Sistema de Cotas no vestibular da Unb, os gêmeos univitelinos idênticos Alan – considerado negro – e Alex – considerado branco – andam povoando a mídia e as discussões na Universidade.



Blog do CACOM: Vocês sempre pensaram em tentar ingressar pelo sistema de cotas?
Alan: Nós fizemos outros dois (vestibulares) sem as cotas. Aí a gente viu que tinha gente que passava pelas cotas que não era exatamente negro, então pensamos “vamos fazer também, se é mais fácil a concorrência...”.

BC: E qual a opinião de vocês sobre o sistema de cotas por “raça”?
Alan: Eu acho que ocorre falha, porque eles não têm critério pra avaliar isso.
Alex: Eu acho que esse negócio é errado, cota pra negro, qual diferença de negro pra branco? Acho que deveria ser cota pra quem é de baixa renda, quem tem menos oportunidade...

BC: Como foi na hora em que vocês descobriram que um tinha passado e o outro não?
Alan: Eu vi meu nome lá, e fiquei todo feliz. “Caraca, passei!”. Depois eu fui ver o nome do Alex e não estava lá. Aí eu fui falar pro Alex e ele não acreditou. Na hora, a gente já pensou em entrar com recurso.

BC: Como foi feito o contato com a imprensa?
Alan: A gente comentou com um professor e ele disse pra ligar pra algum jornal que isso daria polêmica. Aí a gente ligou pro Jornal de Brasília, porque tem um primo nosso que faz estágio lá. Mas a gente achou que ia ficar nisso, ia sair uma nota lá no Jornal e só. Mas depois começou um monte de gente ligando, ligando e deu essa repercussão que tá aí.

BC: E vocês acham que essa repercussão toda vai ser boa pra vocês?
Alex: Acho até que ajuda. Mas eu só queria saber do pessoal da banca, eu queria saber o que eles acharam disso. Se acharam ruim, se acharam bom. Se vão ver isso melhor pra não acontecer mais...
Alan: Às vezes eu fico com medo. Eles devem estar meio “puto” com a gente. Eu não tenho nada contra a Unb, pelo contrário, eu quero entrar lá. Eu só acho errado esse sistema de cotas.

BC: Vocês pretendem aproveitar essa fama repentina? É verdade que querem retomar a carreira musical? (Alex era baterista da banda Caramelos Lisérgicos)
Alex: (Risos) Não, não. O máximo que dava era pro festival de escola mesmo, pra ganhar medalha e churrasco. O melhor que a gente faz é tentar passar no vestibular.

BC: Ouvi dizer que vocês já estão dando até autógrafo, o pessoal parando vocês na rua...
Alan: Autógrafo também não! Mas acontecem umas coisas engraçadas. Um dia desses, uma mulher sentou do nosso lado no ônibus, abraçou a gente e falou: “deixa eu fofocar um pouquinho com vocês...” (risos).
Alex: O pessoal também sempre motiva a gente, fala boa sorte pra passar no vestibular, que nós estamos lutando por nossos direitos.

BC: E incomoda esse negócio de ter que ficar dando entrevista toda hora?
Alan: Eu acho até legal, mas só que devia ser um pouco menos, principalmente nessas duas semanas, pra poder sobrar tempo pra gente estudar pro vestibular.

BC: Vocês já chegaram a ter medo de talvez estarem sendo “usados” por algum grupo?
Alan: Não, eu penso que só estão (a mídia) usando a gente porque é polêmico, dá notícia, só por isso...

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