Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 2 de junho de 2007

Entrevista

Ativismo jovem na Câmara Federal

por Igor Pereira

Naturalidade. Se um daqueles repórteres sem imaginação resolvesse fazer o típico pedido de definir alguém em uma só palavra, essa caberia a Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), 25 anos, a deputada federal mais votada do Rio Grande do Sul (271 939 votos). Dotada de um cativante bom humor e um brilho no olhar quando fala acerca do movimento estudantil e de seus projetos na política, sua única exigência é não ser chamada de deputada, excelência ou similares. E assim, tratada com naturalidade, por “você” ou “Manuela”, ela deu entrevista ao Blog do CACOM, quando falou sobre sua maneira particular de fazer política, a origem no movimento estudantil e sua visão do futuro do Brasil.

Blog do CACOM: A sua campanha foi marcada por uma linguagem bem mais informal do que a usada na política tradicional. Como você acha que essa linguagem contribui numa nova maneira de fazer política?
Manuela D'Ávila: Algumas pessoas acham que isso [a linguagem] é só um elemento decorativo do mandato ou da campanha eleitoral. Falavam que o “E aí, beleza?” [slogan de Manuela na campanha] era uma marca superficial, mas não era, era parte de uma concepção mais profunda, a expressão de uma maneira de fazer política que a gente tem que tentar compreender. É uma obrigação para quem quer fazer política para todas as pessoas se fazer entender por todos. A minha linguagem é a minha linguagem, eu falo desse jeito e eu acho que é a minha obrigação refletir isso no que tem relação com meu mandato. Se o povo entende o que eu falo, por que eu tenho que tornar o que eu falo mais difícil? Acho que a política tem que ser algo natural na vida das pessoas, eu luto por isso, para que todos entendam o que eu estou fazendo.

Blog do CACOM: O que você pensa sobre o movimento estudantil e qual o papel do mesmo na sua formação política?
Manuela: Acho que o movimento estudantil é uma grande escola. A gente faz política, talvez poucos enxerguem o quanto a gente fez política e o papel que os estudantes tiveram na resistência, por exemplo, ao neoliberalismo, a partir da resistência à privatização da universidade pública, que hoje é um consenso na sociedade brasileira, mas que não era na época. Eu fui estudante em universidade pública no auge do processo de privatização e tinha estudantes que a defendiam, tinham professores que defendiam, e eles foram isolados. Eu acho que o movimento estudantil ensina por isso, porque a gente faz com nosso jeito, com a nossa cara, mesmo sem ter reconhecimento. E isso tudo acontece naturalmente. O movimento estudantil é espontâneo, as pessoas pensam aquilo, e por mais que elas se identifiquem com seus partidos, ele flui.

Manuela: "Se o povo entende o que eu falo, por que eu tenho que tornar o que eu falo mais difícil? "

Blog do CACOM: Você acredita que é possível a construção de um caminho para o socialismo no Brasil. Como você acha que isso vai ocorrer?
Manuela: Eu acho que o maior avanço da teoria revolucionária é o fato de nós termos aprendido com a história que não existe fórmula para construção do socialismo e que o socialismo é algo nacional, na perspectiva de descobrir o caminho daquele povo, daquele país, e respeitar a experiência daquele povo. Eu acho que o socialismo brasileiro vai ser verde e amarelo. Achar que vai ser como foi na Rússia ou em Cuba é desconhecer a realidade do povo brasileiro. Como é que essa alegria do povo brasileiro vai ser traduzida na luta revolucionária eu não sei. Eu sei que ela vai ser traduzida com a cara desse povo, mesmo sofrendo tanto com a desigualdade.

Blog do CACOM: E como deputada, qual você acha que é o seu papel nisso?
Manuela: Esses dias me deram um livro, para me convencer de que o indivíduo tem papel, que é “O papel do indivíduo na história”, do Plekhanov. Eu acho que cada um de nós tem uma tarefa, que sempre é a que a gente mais gosta. Às vezes, eu brinco dizendo que tenho muita vontade de ainda estar na UNE, porque eu tenho essa origem no movimento social. Eu acho que o parlamento é um espaço de resistência, de luta, de conquista para os trabalhadores e para o povo e de disputa política, e não um espaço de construção do socialismo. Se a gente negar a importância que teve a Constituição brasileira, que foi aprovada no parlamento, para o povo brasileiro, a gente está desconhecendo o papel do parlamento, mas se a gente ignorar que grande parte das conquistas se deu pela atuação dos movimentos sociais para que o parlamento agisse mais rapidamente, a gente também desconhece. O parlamento pode ser um espaço de efervescência e idéias, cabe a nós socialistas fazer com que ele seja.

Blog do CACOM: E nesses três meses você acha que já deu para sentir como isso vai se dar no resto do seu mandato?
Manuela: Eu tenho dois anos de mandato como vereadora. Então, eu acho que as minhas frustrações com o parlamento eu já tive. Mas eu também aprendi que com a insistência, com o trabalho cotidiano, até alguns elementos da cultura a gente pode mudar com a ação parlamentar. Eu cito como exemplo um projeto de lei que eu apresentei na câmara de Porto Alegre para regulamentar alguns espaços públicos para grafitagem como forma de combate à depredação do patrimônio público e de valorização do movimento hip hop, do reconhecimento dos jovens do movimento, de não trabalhar com eles como se eles fossem os inimigos da sociedade. Nós não conseguimos aprovar a lei, mas hoje a cidade de Porto Alegre tem boa parte de seus muros e viadutos grafitados. Isso é uma mudança de cultura que a gente conseguiu. Fiquei lá dois anos tomando sarrafo de tudo que é lado, mas a gente teve uma vitória e nem sempre ela precisa se traduzir na forma de uma lei.

3 comentários:

Rudá Moreira disse...

quem tirou a foto?

blog do CACOM disse...

foto: Igor Pereira

Cristiano Zaia disse...

vai ser gata assim hein, parabéns igor, vc naum ficou tremendo de entrevistar esse colírioa os olhos naum?? hehehe, brincadeirinha!