Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quinta-feira, 24 de maio de 2007

Futebol!

Big Brother para Anjos
por Vítor Matos

Deus, o Altíssimo, a braba hirsuta, mão no queixo, sentado no seu trono-altar. Parece um diretor de cinema ou teatro, e talvez a semelhança seja mais do que mera coincidência. Lá de cima, das augustas nuvens do firmamento, Ele não só tudo sabe e tudo vê, mas também tudo dirige. O Gênesis conta: “Faça-se a luz”. As reais palavras do Criador, no entanto, foram “Faça-se a luz, câmera e ação”.

Os anjos, folgazões, adoram a peça que vêm se desenrolar aqui embaixo. Tamanho sucesso com o público e a crítica está longe de ser gratuito, muito pelo contrário. O Dramaturgo sabe apimentar o enredo, conhece os meandros da boa trama, atiça as emoções da audiência como ninguém. Não à toa, sua peça é a obra a mais tempo em cartaz na história da humanidade.

Um dos personagens mais comentados dos últimos anos está prestes a deixar a cena. Como o Diretor é dado a arroubos épicos – vide o Grande Dilúvio e As Pragas do Egito – ninguém deixa a trama sem passar por um momento apoteótico ou trágico. É o caso de Romário. Sua história não estaria completa sem os mil gols. Todas as polêmicas, todos os obstáculos, os inúmeros gols com esmero de artista, encaminhavam sua carreira para um desfecho glorioso, catártico. 999 não tem a mesma magia, não cabe bem num filme e o Diretor sabe disso. Quis que o milésimo saísse de pênalti, depois de um mês de agonizante espera, quis que fosse em São Januário (estádio com nome de Santo, o Dramaturgo é corporativista), quis que fosse à noite, debaixo da luz de seus holofotes estelares. Mais, o time que tomou o milésimo de Pelé agora marca o gol mil. Parece novela. E é.

Sai um personagem, figura polêmica e chamativa, entra outro, até agora solenemente desconhecido. Dunga chamou para a Seleção um jovem centroavante do qual ninguém já teve o prazer de ouvir falar. Afonso, ele não tem nome de jogador, mas é artilheiro do campeonato holandês. Quem entende de enredos sabe que os melhores sempre envolvem a surpresa, o inesperado, o improvável. Saga de personagens que aparecem na trama de repente, quietos e calados, quase ninguém lhes dá atenção. Como quem não quer nada vão abocanhando aqui e ali o seu espaço e, quando menos se espera, se tornam os protagonistas . Dunga torce para ser assim a trajetória de Afonso nos palcos da Terra. Mas deve manter o pé atrás, porque o Diretor de vez em quando precisa de uma comédia para alegrar seus dias eternos.

P.S.: Milan x Liverpool, em Atenas, o berço do teatro ocidental. É daqueles atos que valem a pena.

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