Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 11 de abril de 2007

Futebol!

Procura-se
por Vítor Matos

Conhece-se um homem pelas suas aspirações. Se nenhum grande filósofo disse isso, perdeu uma grande oportunidade; devia tê-lo feito. “Conhece-se um homem pelas suas aspirações”. Nada mais lógico e representativo. Diante de uma alma sedenta por riquezas, prazeres selvagens e ostentação, é possível entrever o indivíduo miúdo e mesquinho. Por outro lado, a busca pela harmonia, pela beleza, pelo bem-estar da sociedade caracterizam o espírito nobre. É claro que as possibilidades não se encerram nesses exemplos. Quando o pequeno Napoleão disse em casa que seu sonho era conquistar o mundo, a mãe julgou estar diante de um gênio; o pai, de um louco. Nenhum dos dois errou.

Romário procura o milésimo gol. Sua aspiração é grandiosa, heróica, o que o coloca ao lado dos imortais da história. JK sonhou em construir uma cidade no meio do nada. Alexandre sonhou em chegar à China. Gandhi sonhou com um mundo sem guerras. Romário quer se tornar um dos poucos jogadores a bater a marca dos mil gols. Esse desejo, quase idéia fixa, trai uma personalidade obstinada, ambiciosa. O Romário não se contenta apenas em ser um dos melhores centroavantes que já se viu. Insiste em bater recordes, desafiar limites, tornar-se um mito. Grande entre os grandes.

Também este colunista tem uma aspiração própria (muito parecida com a do Romário, inclusive). Ele procura seu gol mil. Ano 93/94, direção não-hidráulica, branco, estofado levemente carcomido. Foi levado do seu convívio vai fazer um ano. Gatunos, biltres, gárgulas! Este colunista sonha em voltar a ouvir aquele ronco de motor, aquela buzina fanhosa, aquele escapamento de gaita de foles. Mas não tem imprensa ao redor, não tem Maracanã lotado. Não é todo gol mil que desperta interesse.

Eis a diferença entre Romário e o ente digno de compaixão que vos escreve. Um sonha em entrar para a história, para o hall dos grandes heróis da humanidade. O outro só quer sair das estatísticas de donos de carros furtados no DF. Não à toa, para o primeiro Deus apontou e disse: “Sois o cara.” Para o segundo, fez um muxoxo e perguntou: “Do que se trata?” Triste e degradante. Todavia, o que há de se fazer? São anseios pequenos, medíocres, é verdade, mas traduzem todos os dilemas de uma alma.

Procura-se um gol mil. E uma rede na praia. E uma coca gelada. Com limão.

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