Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 4 de abril de 2007

Futebol!

Durante muito tempo esta coluna se omitiu diante de um assunto da maior gravidade para o país. Estaria ela dando de ombros para os dramas da nação? Não! Antes, refletia e ponderava sobre a questão para trazer aos seus leitores um comentário instrutivo, imparcial e definitivo. Ei-lo:

A pressa é inimiga da perfeição
por Vítor Matos

Quem nunca passou horas na fila do mercado? Ou engarrafado no trânsito? Momentos de cintilante agonia e desespero, que fazem da paciência a mãe das virtudes e o freio dos ímpetos selvagens. O brasileiro, dentre os povos da Terra, é aquele mais bem treinado para suportar esses momentos de vácuo temporal, quando a vida pára e tudo que nos resta é a lentidão. Desde o berço, somos educados na fina arte de bem esperar. Tudo começa na maternidade, onde, provavelmente, levamos uns bons minutos na fila do teste do pezinho. Depois disso, a demora fará parte do cotidiano como beber água ou andar pra frente. No restaurante lotado, nos guichês das repartições públicas, nos telefonemas para sua operadora de TV a cabo, na solicitação da segunda via do título de eleitor, no alistamento militar, no corredor do hospital, na entrada dos estádios de futebol. Logo o brasileiro se acostuma a tal sorte de acontecimentos. E, finalmente, quando velho, essa época de maturidade, já sabe aproveitar com regalo uma boa fila no INSS.

Dentro do exposto, não há o menor motivo para revolta com o apagão aéreo. O que está acontecendo com o setor de aviação civil não é senão uma adequação dessa área às demais do nosso país. Sempre houve atrasos e espera em todos os ramos da sociedade brasileira, longas filas, horas intermináveis, lentidão, ineficiência. Quem esteve errado esse tempo todo foi o setor aéreo. Agora, finalmente, nossos aeroportos se alinham ao perfil de nossas delegacias, hospitais, rodoviárias, hipermercados e todo o resto. Enfim, a harmonia. Já não há mais discrepância ou incongruências. O Brasil caminha uniformemente, em todos as suas instâncias. Há cheiro de prosperidade no ar.

Roma não foi feita em dois dias. Exigiu tempo, reflexão e muita paciência. O próprio mundo demandou uma semana inteira para ser concluído. Essas coisas levam tempo mesmo. Então, por favor, não vá se irritar o caro leitor caso o vôo marcado para a sexta-feira da paixão saia só no dia de Tiradentes. Está mais do que provado que a pressa prejudica a execução caprichosa das atividades. Na próxima madrugada que passar no aeroporto, tente ser o mais brasileiro possível e fazer aquilo para o qual fomos treinados a vida inteira. Todas as filas, mensagens de aguarde e horas no trânsito não podem ter sido em vão.

***O que tem tudo isso a ver com futebol?, perguntaria o leitor de primeira viagem. Não sabe ele que há um ano esta coluna ressalta aquele que é o seu lema maior: o futebol está na vida, assim como a vida está no futebol.

2 comentários:

Anônimo disse...

e novamente o romário não marcou o gol... pior... vasco desclassificado.

Anônimo disse...

Aceitou que sua vocação é crônica e não necessariamente crônica futebolística, né?

Afinal, antes havia uma analogia entre um fato e o futebol, o futebol foi se encurtando até chegarmos ao ponto que ele não existe mais, a não ser como uma nota.

Ou seja, um autêntico cronista. Sem futebol.


Marco Prates