Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 25 de abril de 2007

Entrevista - Parte 1

HUB em estágio terminal
por Ânderson Corrêa
foto: Thaíse Torres

Hoje e amanhã, o Blog do CACOM traz entrevista exclusiva com a ex-diretora do HUB Tânia Torres Rosa. Entre os pontos abordados, ela conta sobre a atitude de pedir demissão frente ao quadro de calamidade e descaso que se instalou. O estopim foi a paralisação do setor de emergência médica e a suspensão das internações. Além dela, outros três diretores adjuntos se afastaram.


Por que a senhora deixou o cargo?

Não senti apoio da Reitoria nas demandas específicas do HUB. O apoio recebido se deveu somente às questões que colocariam a UnB em estado de inadimplência, como a assunção da dívida junto à CEB e a parcela do INSS patronal. Estive pessoalmente na CEB, no governo anterior do GDF, e desde aquela época já se entendia que o HUB, sendo centro de custo da UnB, obrigava a transferência da dívida para a mesma. Inclusive gostaria de comentar que a divulgação de que houve repasse de cerca de R$6 milhões da UnB para o HUB inclui as dívidas referidas anteriormente e, do montante total, R$1.800.000,00 foi emprestado ao HUB, que já quitou essa dívida com a própria UnB. Por essa e outras atitudes da Reitoria, concluímos pela falta de apoio ao nosso projeto.


Como avalia o período em que esteve à frente do HUB?

Foi um período de grandes dificuldades, como prevíamos antes mesmo de assumir, porque fazemos parte do grupo de Hospitais Universitários e de Ensino (HUE), que há anos tem sido negligenciado pelas políticas federais de saúde e educação, embora sempre apoiado por suas respectivas instituições de origem, ao contrário de nossa avaliação aqui na UnB. O apoio não se faz na liberação de recursos financeiros que as próprias universidades federais não têm com suficiência, mas em atitudes de apoio político explícito às reivindicações junto às instâncias superiores (MEC, MS, MPOG e MCT), reconhecendo a importância dos HUE no treinamento, capacitação e educação continuada de profissionais da área de saúde, especialmente dos cursos de Medicina. Nesse campo político estivemos alinhados com a Associação Brasileira de HUE (ABRAHUE), participando de todas as reuniões no período, que foram muito úteis para aquisição de conhecimento no setor e para discussão e encaminhamento de nossa problemática específica.

Internamente, apesar de todas as dificuldades, conseguimos equacionar os gastos, reabrir serviços, cumprir a maioria das metas do contrato junto à Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), retomar procedimentos de alta complexidade, como transplantes renais, cirurgia bariátrica [de redução do estômago] e encaminhar alguns outros, como implante coclear, que devolve a audição em muitos casos dessa deficiência. Mantivemos uma relação de parceria com a SES-DF como nunca antes havíamos conseguido e estamos em pleno processo de ampliação da UTI de adultos e início da UTI pediátrica com o total apoio dessa SES.

Implantamos o sistema de prontuário eletrônico no Pronto Socorro e estamos em fase de implantação da prescrição eletrônica na clínica cirúrgica, a exemplo do que já vinha ocorrendo na clínica médica.

A Diretoria Adjunta de Ensino e Pesquisa fez um trabalho ímpar, ampliando as informações de atividades desenvolvidas no HUB em trabalho que conseguiu demonstrar como e porque o HUB é o maior centro de custos acadêmico, dos pontos de vista de agregar maior número de atividades (créditos) de graduação, pós-graduação e extensão de serviços à comunidade, comparativamente às unidades existentes em toda a UnB.

Várias outras realizações foram possíveis, e eu atribuo à excelência da equipe que conseguimos compor, trazendo professores de diversas áreas do conhecimento para compor conosco nesse empreendimento. Elas estão na íntegra no relatório anual de gestão, entregue à Reitoria em março deste ano e divulgada em nosso site no mesmo mês.


Tânia: "Não senti apoio da Reitoria nas demandas específicas do HUB"



Qual é a situação de trabalho hoje em relação à questão financeira, de pessoal, de infra-estrutura e material?

Em alguns aspectos mais grave do que aquela do início de nossa gestão. A dívida total se mantém em torno de R$ 40 milhões. Se considerarmos apenas a parcela devida a fornecedores, que na nossa interpretação é a única que deveria ser administrada pelo próprio HUB, que não é centro arrecadador e deveria ser entendido como tal por parte da administração central da UnB, está em torno de R$10 milhões. Em relação à questão de pessoal, solicitamos que ela fosse assumida pela UnB. A Universidade naturalmente deveria recorrer a suas instâncias superiores (como são os ministérios já citados) para expor e planejar estrategicamente uma solução, como já determinado e aprazado pelo TCU. Continua na mesma, e a solução interna apontada pela Reitoria foi tão inócua e frágil que foi suspensa antes mesmo de ser posta em execução. A infra-estrutura sofreu uma deterioração prevista há mais de um ano em relatório enviado à Reitoria e confeccionado por nossa divisão de engenharia clínica que, pasmem, não conta com engenheiros. Concomitantemente, solicitamos esforços no sentido de completar nossos quadros nessa área para podermos fazer não só as reformas urgentíssimas e necessárias, mas também cumprir nossos planos de iniciar processos de manutenção preventiva para evitar a deterioração inaceitável a que chegaram as estruturas físicas do HUB. A crise que representou a gota d’água em nosso copo, repleto de problemas insolúveis, foi estritamente relacionada com essa indiferença frente às reivindicações apresentadas, que sequer mereceram resposta por parte da administração central da UnB. Uma sucessão de canos estourados que atingiram o sistema de elevadores, em avançado estado de deterioração há muito, e colocaram os pacientes, alunos e servidores do HUB sem condições de acessibilidade dentro de suas próprias instalações. Especificamente sobre isso, além dos relatórios, fizemos inúmeros apelos verbais em reuniões realizadas com a Reitoria e com o Decanato de Administração (DAF), sem sucesso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pela entrevista, o assunto é importante. Da próxima vez, tente editar mais a entrevista (algumas respostas ficaram muito grandes e podem ser divididas ou mesmo cortadas).

Mas é de grande valia, de qualquer modo.