Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quinta-feira, 26 de abril de 2007

Entrevista - Parte 2

HUB em estágio terminal
por Ânderson Corrêa
foto: Daiane Souza/UnB Agência

Na última parte da entrevista, Tânia Torres explica a relação do HUB com a Reitoria e como a questão da ética médica é tratada em meio a falta de condições adequadas de trabalho.


Como os médicos e os residentes lidam com a ética médica diante de condições tão adversas?

Com extremo constrangimento. Posso afirmar, face às manifestações recebidas, chega também a um limite. Sempre se pensou que se não houvesse entendimento da importância do HUB no contexto acadêmico por parte da UnB, era nossa obrigação assumir esse ônus. Hoje considero essa análise equivocada e, no meu entender, a comunidade do HUB tem essa mesma opinião tantos anos depois de iniciado esse processo. Exemplifico para me fazer entender melhor. O curso de medicina é o mais concorrido no concurso vestibular há muitas décadas. Pelas Diretrizes curriculares do MEC, não pode funcionar sem um HUE. Como pode a UnB, uma das 10 melhores universidades do país, continuar a oferecer este curso sem um planejamento estratégico para solucionar os problemas do HUB? Repito: não sozinha. Alinhada com ANDIFES, ABRAHUE, ABEM (Associação Brasileira de Educação Médica) e a comissão interministerial que se compôs com os ministérios anteriormente citados. Mas, ao mesmo tempo, obrigando-se a pensar em soluções próprias, a curto e médio prazo, para sobreviver até que se complete o processo que está sendo levado a efeito por essas instituições citadas.


Já foi necessário improvisar nos procedimentos médicos habituais para atender pacientes?

Sim. Jamais sem fundamentação das evidências científicas. Mas, por exemplo, em algumas ocasiões, foi preciso escorar mesas cirúrgicas e, artesanalmente, fazer consertos em materiais cirúrgicos para completar operações iniciadas. A excelente formação técnica e profissional de nosso corpo clínico sempre impediu, felizmente, que ocorressem prejuízos letais aos pacientes em decorrência disso.


A ex-diretora revela que a Reitoria já pensou em transferir a administração do HUB para a Secretaria de Saúde do DF


A Reitoria trata o HUB com negligência?

Acho que a resposta a esta questão está implícita nas respostas anteriores. Não estou certa de que seja negligência a palavra certa. Sou instada a interpretar que há uma política, nunca explicitada, de restrição progressiva ao funcionamento do HUB. Aliás, é desmentida pela Reitoria quando se aborda o assunto. São palavras. As ações demonstram a lógica de nossa análise. Raramente nos foi negada reuniões para solucionar crises, mas em apenas uma vez tivemos ação: o acompanhamento do Vice Reitor à SES-DF, junto com a Diretoria do HUB, para conseguirmos a cessão de neonatologistas para a crise que, em dezembro último, motivou o fechamento do berçário e maternidade no HUB. Isso impediu o início do semestre letivo dos alunos dos três últimos semestres de Medicina (Estágio de Internato) no prazo previsto.

Houve também, nesses 14 meses de nossa gestão, muita desconfiança por meio de questionamentos freqüentes aos dados que apresentávamos, especialmente relativos às finanças, embora nunca se tenha tido uma explicação contábil para essa dúvida. Houve ainda muito desrespeito, especialmente por meio de conversas entremeadas de piadas jocosas de inserção de HU nas universidades, que me recuso a repetir neste espaço. Essa impressão já havia sido declarada, de forma mais sutil, em nossa saudação de fim de ano (2006) que publicamos no sítio eletrônico do HUB.

Na crise que impôs nossa demissão, as primeiras palavras da administração central foram de reprimenda à nossa equipe pela condução administrativa burocrática e jurídica que o HUB teve com a empresa responsável pela modernização dos elevadores. Não houve reconhecimento de que todas as medidas cabíveis já haviam sido tomadas e, mesmo se houvessem elevadores novos, estes estariam igualmente danificados pelos canos de água estourados. Quando verificaram que todas as providências haviam sido tomadas, chegou-se a mencionar que deveríamos esperar até 10 de junho, prazo final da empresa para entregar o serviço contratado, conforme licitação conduzida pela própria UnB. Essa indiferença frente ao HUB, paralisado pela crise, é inaceitável. É por isso que nos recusamos a participar de reunião com o senhor Reitor no dia seguinte ao nosso anúncio de pedido de exoneração do cargo. O anúncio foi feito em primeira mão ao colegiado do HUB, que ainda é o chamado Conselho Técnico Administrativo (CTA), pois nosso projeto de Regimento Interno, adequando-nos às exigências mais modernas de administração de HUE com a modernização de seus colegiados inclusive, está há quatro meses na Reitoria, sem resposta.

Como reforço ainda a essa minha interpretação, houve também em mais de uma ocasião a sugestão da Reitoria para discutirmos a hipótese de passar o HUB à outra administração, como a SES-DF, por exemplo. Também a reunião com o MS anunciada na última quarta-feira, e não realizada, foi idéia da Reitoria. O MS e a SES-DF vêm cumprindo inteiramente seus compromissos com o HUB, respeitando o contrato assinado e repassando os recursos financeiros correspondentes mês a mês.

O HUB já fez apelos diretos ao Ministério da Saúde em busca de soluções. Existe diálogo e disponibilidade do Governo Federal para solucionar a crise?

A instância administrativa do HUB não é apropriada para se dirigir diretamente ao MS ou qualquer outro ministério. Nossa instância superior é a Reitoria da UnB. Assim mesmo, mantivemos diversos contatos informais com escalões inferiores do MEC e MS, sem resultado significativo.
Está claro que existe diálogo, mas parece haver muito pouca vontade política de se chegar a uma solução definitiva em prazo adequado às demandas existentes nesse setor.

A inauguração do Centro de Oncologia do HUB está prevista para daqui a seis meses. A senhora acredita que isso vai ocorrer?

No momento não me sinto em condições de responder a esta questão.

Quais são os seus planos profissionais de agora em diante?

Voltar às minhas atividades de docência, pesquisa e extensão, como professora associada I da UnB, onde estou há 24 anos. Farei isso com o maior prazer, sem deixar de batalhar por nossos ideais aqui colocados, com a mesma garra e determinação.

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