Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Futebol!

Dentões e fio dental
por Vítor Matos

O Brasil é o país do futebol e do carnaval. É gol de um lado e iskindolelê de outro. Por aqui, dificilmente se caminha na rua sem ser atingido ou por uma bola ou por uma chuva de confete e serpentina. E são duas paixões tão arraigadas que freqüentemente se misturam: o batuque da bateria invadindo a arquibancada, o artilheiro que dá aquela sambadinha depois do gol, torcidas organizadas virando escolas de samba, a camisa do Dunga. O brasileiro idolatra os dentuços Ronaldo e Ronaldinho com o mesmo entusiasmo que reserva para o fio dental desfilando na avenida.

Mas, a despeito do igual prestígio de que gozam entre a população, futebol e carnaval contribuem de forma diferente para o andamento da vida nacional. Enquanto o esporte presta excelentes serviços, disseminando valores positivos e dando oportunidades aos jovens, a folia de Momo conspurca o país moralmente, culturalmente e cronologicamente.

Os desfiles de escola de samba, por exemplo. Uma ode à degradação da sociedade. Todo aquele silicone irriquieto, quicando para todos os lados e em todas as partes do corpo; as discussões épicas sobre os méritos desta ou daquela rainha da bateria; o burburinho que vem dos camarotes. É uma enxurrada de valores tortos. E há ainda a nudez hipócrita, a mais cínica peculiaridade do carnaval. Ninguém está nu durante o desfile, apenas artisticamente fantasiado. As regras do desfile obrigam que moças e rapazes atravessem a avenida usando um tapa-sexo, de maneira que não se ofenda a moral e os bons costumes durante os festejos. Um zelo admirável.

Completando o apocalipse, tem sempre um big brother desfilando. Geralmente, ele é um sucesso com o público nas arquibancadas. Acenos e beijinhos. Curioso é que a verdadeira celebridade do espetáculo há muito tempo não é convidada: o bom samba. Talvez os compositores estejam entediados com seu ofício, ou simplesmente se entregaram à mediocridade geral. O fato é que os sambas-enredo dos últimos tempos capricham na pobreza, tanto poética quanto musical. Palavras africanas, rimas com coração e um longo ôooh no refrão já saturaram os ouvidos. Está perto o dia em que o funk tomará a Sapucaí.

Não obstante, o Brasil é o único país do mundo que possui um calendário com apenas dez meses. Graças ao carnaval.

Fica a torcida para que, nos próximos anos, o carnaval seja extirpado da identidade brasileira. Que o Brasil se transforme no país do futebol e da educação; ou do futebol e da cachaça de alambique; ou ainda, do futebol e do futsal. Rompamos com o estigma do povo carnavalesco, que por tantos anos tem nos custado o amadurecimento intelectual e cívico da nação. Este ano, não ponha o bloco na rua! Rasguemos as fantasias, pisemos nas plumas, picotemos os abadás, joguemos fora os tapa... opa, isso não. Respeitemos os limites.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom o textos ;D