Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Artigo

O Irã e o Átomo
por André Renato Sousa

O noticiário nos últimos meses tem sido marcado pelas atividades nucleares no Irã. Este se defende dizendo que é para uso pacífico. Boa parte do mundo desconfia e com razão. Algumas pessoas vêem essa atitude em relação ao Irã um tanto hipócrita. E também há certa razão nisso. A pergunta que fazem é: por que o Irã não pode e tantos outros podem? Eu também já fiz essa pergunta no passado. Hoje posso dizer que ela é muito simplista e só caberia num mundo perfeito. Explicarei por quê.

Creio que a maioria sabe que o mundo possui várias armas nucleares, capazes de dizimar toda a população com apenas uma pequena parte do arsenal. Seu uso como arma aconteceu apenas no fim da Segunda Guerra Mundial, se bem que para uma arma com tamanho poder de destruição não caiba a palavra “apenas”. Foi um ato condenável que felizmente não se repetiu. Há uma série de fatores para isso. Um, que permitiu a sobrevivência do planeta durante a Guerra Fria, foi o temor da destruição total. Outro é a repercussão extremamente negativa que geraria o uso bélico da energia nuclear. Por fim, em alguns países detentores da bomba, há o controle interno, o que no fim é uma variante do fator acima.

Muitos argumentam que num país democrático a posse de uma arma nuclear é menos perigosa e mais aceitável que numa ditadura, exatamente por causa da possibilidade de controle interno. Eu concordo apenas em parte. Pessoalmente preferiria que não houvesse nenhuma, mas devemos analisar o mundo pelo que ele é. Claro que muitos de nós agimos de acordo com o mundo que desejamos, mas isso não pode ser desculpa para ignorar seu funcionamento atual. Essa compreensão é inclusive essencial para a transformação. Assim, gostemos ou não, muitos países já possuem armas nucleares e não estão dispostos a se livrar delas. Cabe agora evitar uma expansão do arsenal.

Talvez (ou com certeza) receba críticas, mas minha concordância apenas parcial não é restritiva. É justamente o oposto. Eu pessoalmente acho que a posse de uma arma nuclear é menos perigosa não só em países democráticos, mas também em algumas ditaduras, formando um grupo que poderíamos chamar de pragmáticos. São países que não têm real interesse em usar as armas nucleares, por variados fatores. Existe um grupo, no entanto, no qual está a outra parte das ditaduras, em que o uso dessas armas é possível. O Irã está aí. A Síria é outro membro. A Al-Qaeda, embora não seja Estado, também. Por enquanto nenhum deles possui arma nuclear e é preciso agir para que não venham a ter. Caso Brasil ou Egito (uma democracia e uma ditadura), por exemplo, fabriquem a bomba, isso pode gerar certo temor, mas poucos duvidariam de que tais países não pretendem usá-la. O Irã, por outro lado, levanta muitas suspeitas.

É por isso que eu sou contra o programa nuclear iraniano. Falta-lhe credibilidade para garantir que usará somente com fins pacíficos.

5 comentários:

Anônimo disse...

O Brasil pode até ser que não gere suspeitas, agora o Egito eu já não sei, hein... Não pelo governo atual em si, mas pela própria região na qual se encontra o país.

Anônimo disse...

Ah, esse preconceito idiota contra os árabes ou muçulmanos. É exatamente esse tipo de raciocínio que proporciona o pensamento hipócrita de que "Assim, gostemos ou não, muitos países já possuem armas nucleares e não estão dispostos a se livrar delas. Cabe agora evitar uma expansão do arsenal." Qual o raciocínio? Agora que os baluartes da liberdade como Estados Unidos e Inglaterra têm arsenal nuclear, precisamos evitar que a expansão bélica nuclear chegue ao Eixo do Mal?

Por favor, é claro que armas nucleares são perigosas na mão fanáticos como o presidente do Irã, mas também existe fanatismo nos EUA E UK. É hipocrisia conservadorista defender a manutenção do arsenal nuclear americano enquanto critica-se a iniciativa a priori defensiva do governo iraniano...

Anônimo disse...

Parece que o Marcelo não entendeu direito meu artigo. Em nenhum momento defendi a manutenção do arsenal nuclear dos EUA. Também não entendi como você pode dizer que tenho "preconceito idiota contra os árabes ou muçulmanos". Eu não deixei isso claro no exemplo do Egito?
Posso dizer que não me conhece nada nem leu direito o meu texto ao sugerir que haja em mim uma "hipocrisia conservadorista".
Quanto ao ponto central, pelo menos concordou que é um perigo o Irã ter armas nucleares.

Anônimo disse...

Concordo com o artigo. Mas acho que num artigo jornalístico, a palavra "eu" deve ser evitada ao extremo.

"É por isso que eu sou contra o programa nuclear iraniano"
"Eu pessoalmente acho que a posse ..."
"Eu também já fiz essa pergunta no passado"
"Eu concordo apenas em parte."
"mas minha concordância apenas parcial não é restritiva"
"É por isso que eu sou contra o programa nuclear iraniano"

EU também concordo com todas essas afirmações, mas lendo um jornal não me interessa o que o jornalista acha e o que ele quer. Aliás, perceber isso me incomoda, é sinal claro de parcialidade extrema, opinião pessoal escancarada, o que não interessa.

Anônimo disse...

Isso pode ser explicado. Eu escrevi o artigo, mas não para o blog. O Gabriel Castro me perguntou se eu tinha alguma coisa feita para movimentar o blog, que andava parada devido à época (fim de um ano e começo de outro). Então, eu mandei o artigo para ele, que o publicou.

Mas está anotada sua reclamação. Um pouco mais de revisão e modificações não atrapalharão.