Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 14 de outubro de 2006

Dia do Leitor

A fada e o dragão
por Guilherme Rocha

Pena que o homem insista em fazer contos de fadas
E pena que o mundo faça tanta questão de destrui-los.
Não sei quem é mais imundo: se o mundo, se o homem
Se sou eu.
Não sei o que é mais escuro: se o breu, se a pele do discriminado
Se a noite, se o chicote de açoite, se a mente de quem açoita.
Escondidos na moita, atrás das grades, atrás das verdades
Tremendo de medo, guardando segredo, chupando o dedo polegar
Como uma criança, como a esperança
Tremendo de frio, guardando seu brio, morrendo seu tio
Seu pai. Eles não voltam nunca mais.
Nem as mães têm esse poder (não há palavras que rimam com mãe).
Mesmo assim, sou riso, sorriso, uma partícula particular.
Sou tudo, sortudo e isto é mentira, pois não acredito em sorte.
Acredito que o mais forte nem sempre ganha.
Mas bate mais.
Demais até. Por isso, dê mais, não fique atrás da grade já citada.
O que você acha? Relaxa…
Vale risada, mulher valorizada. Para isso, para esse paraíso,
Não pergunte qual é a idade, e sim a qualidade.
A tal situação atual é assim porque a deixamos ruim.
Só mudará se estivermos afim, mas não estamos.
Queremos um punhado de papel colorido com números escritos.
E um conversível na garagem. O resto é bobagem.
Queremos ser é rei! Eu também errei e vou errar até morrer.
É mais fácil do que tentar acertar.
É mais fácil do que ir contra a maré
É melhor esquecer o que amar é
Não sei responder.
Se souber, me conta.
Não poderei pagar a conta, mas terá a minha gratidão.
Gratidão não é crédito de cartão, mas vale alguma coisa.
Não é peça de museu, não é o cálice onde Cristo bebeu.
Não é a maçã que a princesa mordeu nem o sapatinho de cristal.
É a abóbora, o patinho feio, aquilo que ninguém quer.
É a parte do conto de fadas em que a gente fecha o livro porque ficou chato.
É a antítese da notícia, da guerra fictícia, da guerra da fé.
Afinal, no final dos contos de fada, como na vida real,
Onde sofre quem tem gratidão,
Quem morre nas mãos do príncipe encantado é sempre o dragão.

Guilherme Rocha é estudante de jornalismo da UnB.

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