Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Coluna - Futebol

A hora e a vez dos xerifões
por Vitor Matos

Depois da lambada, dos tamagochis e da escovinha progressiva, é a vez dos xerifões virarem mania nacional. Desde diretores de jardim de infância até senadores da república, todo mundo tem que falar grosso, esbravejar, distribuir pontapés, se preciso. Afinal, uma sociedade arruinada como a nossa só se conserta à base de tratamentos de choque, truculência e brutalidade. Então emergem os xerifões, os grandes disciplinadores de que a nação tanto precisa. “Vote contra o desarmamento, pois você tem o direito de possuir um 38 e revidar as ações dos bandidos”. Bolsa-escola e Bolsa-família agora são coisa do passado. Vem aí a Bolsa-Metralhadora. Cidadão humilde também pode participar do bangue-bangue.

Agora pedem o Bernardinho para técnico da Seleção de futebol. Chiliques à beira da quadra, ataques de fúria e gritaria com os jogadores parecem credenciá-lo para tal. É capaz até de sugerirem por aí que ele use um chicote caso o Ronaldinho Gaúcho teime em não apresentar boas atuações. Que beleza. Como se, no final das contas, não fosse o talento o diferencial numa partida. Como se o drible fosse fruto das broncas e das imposições feitas pelo treinador. O jogador de futebol é um artista. Não precisa de ninguém para o desrespeitar, humilhar e importunar. O craque está acima da cartilha ditatorial dos técnicos xerifões. Baixola que o diga.

Mas o povo brasileiro decidiu que faltou um técnico durão à nossa equipe na Copa do Mundo. Felipão, o preferido da torcida, não pôde substituir Parreira porque atualmente desfila seus métodos militarescos em Portugal. Bernardinho, por sua vez, ainda só mexe com vôlei. Arranjou-se então o Dunga, notabilizado pela garra e pelas cabeçadas que distribuía em companheiros enquanto jogador. Pronto! Por falta de pulso, o Brasil não perde mais. E pra demonstrar para a torcida e para os jogadores o tamanho de sua valentia, o treinador de primeira viagem ameaça de botar no banco o Kaká e o Gaúcho. E parece, com os últimos amistosos, que acaba de fazer uma descoberta: Robinho e os dois jogadores citados acima não podem atuar juntos no mesmo time. Estupendo!

Por que as idéias medíocres e ignorantes continuam encontrando tanto respaldo no Brasil? Por que um deputado que defende a violência no combate à violência é tão aclamado pelos eleitores? Por que técnicos de futebol ( e de outros esportes) que agem de forma mal-educada, ríspida e grosseira são considerados grandes disciplinadores e imprescindíveis aos times? Vivemos a era dos xerifões.

P.S.1: No jogo de ontem: cruzamento certeiro de Cicinho, cabeçada fatal de Love. Fossem Cafú e Ronaldo, o lance não teria nascido e muito menos terminaria em gol.

P.S.2: Minhoca, sentiremos saudade.

Um comentário:

Adriana Caitano disse...

Vitor, pelos seus textos, percebo que a História (curso) perdeu um ótimo Jornalista!!! Vai nessa que você tem futuro rapaz!! Também, desde pequeno já era cabeçudo, não seria diferente agora...
Abraço!! Dri