Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


domingo, 20 de agosto de 2006

Editorial

No último fim de semana, o Brasil foi testemunha de mais um seqüestro ocorrido na grande São Paulo. O alvo dessa vez foi uma equipe de reportagem da Rede Globo de Televisão. O auxiliar técnico Alexandre Calado e o repórter Guilherme Portanova foram rendidos na manhã de sábado, dia 12, e levados pela organização criminosa PCC. Mais tarde, Calado foi liberado, e apareceu na sede da TV Globo carregando consigo um DVD com imagens de um homem encapuzado reivindicando mudanças e melhorias no sistema carcerário do país. Divulgar o vídeo foi a condição imposta à Globo para que o repórter ainda cativo fosse libertado com vida. A emissora, sem outra opção, divulgou a gravação ainda na madrugada de domingo. No mesmo dia à noite, o repórter foi libertado.

Ainda no domingo, foi descoberto que o vídeo havia sido gravado na segunda-feira anterior, dia 7 de agosto, e jogado na garagem da sede do SBT. Mas a rede não teve interesse em divulgá-lo. O seqüestro da equipe da Rede Globo foi, então, a saída encontrada pelo PCC para conseguir expor suas reivindicações. A decisão de mostrar o conteúdo do vídeo foi tomada com base na orientação dada por entidades internacionais, e foi aplaudida por outras empresas de comunicação.

O PCC vem sendo considerado o responsável por grande parte dos crimes ocorridos na cidade de São Paulo e no interior do estado. Seu ato audacioso mostra a fragilidade brasileira, dos cidadãos, da mídia, e até mesmo da polícia. A impunidade toma conta do país, e o crime demonstra ter um poder cada vez maior. Aos jornalistas e às pessoas de bem, só resta torcer para que outras organizações não resolvam tomar a atitude do PCC como exemplo. O episódio traz à tona um dilema já enfrentado por veículos de comunicação no Iraque e na Palestina: até que ponto é adequado atender às reivindicações de seqüestradores? Por um lado, há a preocupação com a vida em risco. Por outro, o temor de que o sucesso dos seqüestradores cause novas ações semelhantes por parte de extremistas. Infelizmente, este é um dilema que não tem respostas fáceis. O mais importante é reconhecer que a situação é séria, e não nos acostumarmos: o seqüestro de jornalistas é uma afronta grave à liberdade de informação.

Um comentário:

Anônimo disse...

o ataque do PCC não mostra a fragilidade dos "cidadãos brasileiros" e sim a fragilidade do Estado! Ai de nós se formos culpados pelos ataques do PCC...