Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Coluna - Futebol

Vários coelhos, nenhum esforço.
por Vitor Matos

Um capítulo que tratará das inúmeras formas que um governo pode desagradar sua população apenas deixando de cumprir suas funções básicas, como cuidar do patrimônio público

Frustração. Segundo o Aurélio, estado que acossa o indivíduo quando ele é privado da satisfação de um desejo ou de uma necessidade. Um sentimento diametralmente oposto àquele que experimentamos ao achar uma nota de 20 escondida nos recônditos da calça.

Nos preparávamos, eu e meu amigo Sapão, para ir ao Serejão acompanhar Brasiliense e Marília. Na sexta-feira passada, numa conversa distraída, chegamos ao acordo que não havia programa melhor para a tarde do dia seguinte do que comparecer às arquibancadas do ditoso estádio. O Jacaré vinha de vitória contra o Sport e ensaiava uma reação no Campeonato. Com alguma sorte, veríamos uma partida movimentada e recheada de gols. Com mais sorte ainda, desfrutaríamos da companhia do ex-senador, freqüentador assíduo dos jogos de seu time. Mas nossos promissores planos morreram ainda no nascedouro. Horas mais tarde descobrimos que todos os estádios públicos do DF ― Serejão incluso ― haviam sido interditados pela CBF. Os estádios candangos não podem abrigar jogos oficias por falta de condições mínimas de segurança. Frustração.

Honestamente, já passava da hora de uma atitude desse calibre ser tomada. Quem freqüenta os estádios metropolitanos sabe do perigo que eles representam para os torcedores. O Serejão, por exemplo, que inclusive foi palco de jogos da Primeira Divisão no ano passado, é o retrato perfeito do desleixo e do descaso com a segurança. Nas vezes que estive lá ― acompanhando triunfos rubro-negros ― notei, com muita estranheza, que não havia a revista de torcedores (aquela famigerada apalpação, nos portões de acesso, para descobrir armas ou drogas escondidas em alhures no corpo). Detectores de metal?, um sonho distante. E ― juro pela minha barba que não é brincadeira ― no lugar de catracas ou algo semelhante, o Serejão oferecia pessoas que, levantando e abaixando seus braços, faziam o papel de barreiras.

O Mané Garrincha não fica atrás. No jogo da Seleção brasileira, em setembro passado, um dos eventos esportivos mais importantes que a cidade sediou nos últimos anos, o maior estádio do DF apresentou um respeitável show de ingerência e irresponsabilidade com o público. Sem saídas de emergência adequadas; os banheiros lotados e mal-iluminados convidando para um assalto; as arquibancadas sem condições para atender àquele grande público, o que obrigava as pessoas a acomodarem-se sobre lajes e muros; um policiamento, mais uma vez, débil e deficitário. Sem contar que qualquer um que desejasse entrar no estádio portando uma carabina o teria feito sem transtornos. O Brasil é o candidato mais forte para receber a Copa de 2014. Mas parece que se esforça no sentido contrário.

Todavia, o sentimento de frustração ― já citado no primeiro parágrafo ― extrapola os amantes do futebol e atinge uma classe bem mais nobre da população brasiliense: os amantes da banda Rebeldes. O show dos mexicanos na capital federal está marcado para o Mané Garrincha, mas agora corre riscos de não acontecer graças às condições medievais do estádio. Minha prima e suas amigas vivem momentos de pura ansiedade.

Se eu fosse a Governadora, garantiria a realização do espetáculo de qualquer jeito, nem que precisasse ceder o gramado da residência oficial para tal. A reeleição estaria no papo. Mas ― quem sabe?― talvez as ruínas que tomam conta dos nossos estádios sejam uma tentativa arquitetônica de lhes conferirem charme, aproximando-os ao Coliseu de Roma, a mais famosa arena do mundo, afinal de contas. Depois do modernismo de Niemeyer, o neo-classicismo do GDF.

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