Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


segunda-feira, 21 de agosto de 2006

Cobaias Humanas

No HUB, pacientes de baixa renda se submetem ao atendimento feito por alunos.
por Jaqueline Lima

Médicos e alunos do hospital universitário não se constrangem em usar os seus pacientes como um laboratório para seus estudos. A partir do 5º semestre os estudantes de medicina começam a ter aulas práticas no Hospital Universitário. Não raro, um paciente se torna objeto da aula de alunos do curso de medicina.

“Por se tratar de um hospital universitário, existe um contrato implícito de que o paciente pode ser tratado por alunos”, afirma o Dr. Paulo César de Jesus, vice-diretor da Faculdade de Medicina da UnB. Ele assegura que os pacientes são consultados antes de se submeterem a uma demonstração para uma turma de estudantes. “Se o paciente se recusar a ser examinado pelo aluno, então nós, médicos, o atendemos”, diz ele.

Segundo o estudante de enfermagem Leonardo Reis, do 6º semestre, há pouco debate sobre a relação aluno–paciente na faculdade. Para ele, esse tema não é suficientemente retratado nas aulas e, em grande parte das vezes a individualidade do paciente não é respeitada. “Não há consentimento do paciente para ser tratado por alunos, nem sequer perguntam para ele”, diz Leonardo.Esses pacientes, em sua maioria não têm condição financeira de pagar um hospital particular e dependem da rede pública.

Na ginecologia, as mulheres são atendidas por alunos muito mais jovens e se sentem constrangidas ao se expor no momento do exame. “Às vezes eu fico sem graça, mas eu fecho os olhos e finjo que é um médico experiente que está me examinando”, diz Adriana, 30 anos, moradora da Colônia Agrícola de Samambaia. Contudo, as pacientes, no geral, gostam do atendimento do hospital e elogiam o tratamento.

Vasectomia feita por estagiária

Jobson Almeida, 28 anos, pai de duas filhas, se inscreveu no programa de Planejamento Familiar do Hospital Regional de Ceilândia e após um ano e meio de espera conseguiu uma peixada para adiantar a sua vez. No dia marcado para a cirurgia, se dirigiu a sala do centro cirúrgico e ao entrar se deparou com duas estagiárias e um estagiário. Pensou: “será que eu vou ter que ficar pelado na frente desse monte de gente?”. O médico pediu para que baixasse a cueca e lhe aplicou a anestesia local.

Jobson permanecia consciente e pôde ouvir a explicação do médico à estagiária: “aí você pega o bisturi e corta bem aqui”. “Eu faço um e você faz o outro”, orientou o médico. “Coloca o dedo polegar dentro do corte e procura o canal deferente”, prosseguiu o médico.

Após o fim da cirurgia, Jobson voltou para casa contente por que não teria mais filhos. “Eu sou meio largado mesmo e não me importei”, diz Jobson. “Eu queria era não ter mais filhos”, completa.

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