Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quinta-feira, 6 de julho de 2006

Quando o tombamento histórico restringe a cultura

Há mais de um ano sem funcionar como cinema, o Auditório Dois Candangos tem se limitado a palestras e raras exibições de filmes
por Felipe Néri

Palco da cerimônia de inauguração do campus da UnB, em 1962, o Auditório Dois Candangos esteve presente em momentos de grande relevância para a Universidade. Situado em um dos prédios da Faculdade de Educação, o lugar já sediou concertos, palestras, mostras de cinema e eventos solenes. Na década de 80, passou a abrigar um cineclube articulado por alunos e, ao longo dos anos 90, tornou-se uma sala comercial de exibição de filmes, administrada por uma empresa terceirizada.

foto:CEDOCEm cerimônia de inauguração do Campus da UnB, tecidos no teto buscavam amenizar a aparência inacabada do Dois Candangos

Apesar de ainda contar com dois projetores de películas de 35 milímetros, o auditório, que hoje é de responsabilidade da DEA (Diretoria de Esporte, Arte e Cultura), está há mais de um ano sem funcionar como cinema. De acordo com Rosana Castro, diretora da DEA, o fechamento se deu por causa do fim do contrato com a empresa que mantinha o Cine Dois Candangos e pela inviabilidade de se manter uma sala comercial em um espaço tombado. Segundo Wladimir Barros, coordenador de Audiovisual da DEA, as leis de segurança e saúde que dizem respeito às condições de abertura de salas de cinema não permitem o funcionamento do Dois Candangos no circuito comercial. “Para ser reaberto como cinema, o auditório deve ser reformado. Mas por ser um patrimônio histórico, ele deve passar por um caro processo de restauração”, ressalta Barros.

foto: Felipe NériApesar de conservar suas características originais, o Auditório Dois Candangos não se adequa às salas comerciais de cinema


Como o auditório está sendo utilizado apenas para palestras e raras exibições de filmes, parte do acervo advindo do cineclube é mantido pelo Centro de Documentação da UnB (CEDOC). Mesmo com a preocupação em conservar arquivos da história da Universidade, o CEDOC não possui espaço físico adequado para manter as antigas fitas do cineclube. O fato de estarem expostas a condições de umidade e temperatura inadequadas tem causado a perda de preciosidades da sétima arte.

Todavia, os estudantes que se queixam da ausência de um cinema barato, com espaço para mostras universitárias e manutenção de acervo de cinematografia, como o Cine Dois Candangos, não devem perder as esperanças. O projeto do mestrando da Faculdade de Comunicação Helder Queiroga, em parceria com a professora Dácia Ibiapina, busca instalar uma sala de cinema comercial no Anfiteatro 12, no ICC Norte. Ibiapina informou que a UnB já concedeu apoio para reformar a sala, mas ainda falta investimento privado para comprar os equipamentos. Enquanto o projeto não é efetivado, os estudantes continuam a mercê dos abusivos preços dos grandes cinemas da cidade. O prejuízo não é apenas para os universitários, mas também para a produção audiovisual local.

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