Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sexta-feira, 31 de março de 2006

A história que não se apagou

Mais de 40 anos depois, a ditadura militar ainda é assunto polêmico e cheio de lembranças ruins para quem a vivenciou
por Adriana Caitano

“Prisão, tortura e morte”. São essas as palavras que vêm à mente de milhares de brasileiros ao recordarem-se do regime militar, como o jornalista e professor da UnB, Hélio Doyle. 42 anos após o golpe que levou os militares ao poder, as lembranças da chamada Ditadura Militar ainda permanecem marcadas na cultura do Brasil e na vida de todos os espectadores e atores dessa história que jamais será esquecida.

Ao tomar posse, em 1961, o presidente João Goulart instaurou uma política de abertura a movimentos sociais. Estudantes, organizações populares e trabalhadores ganharam espaço, causando a preocupação das classes conservadoras, como os empresários, os banqueiros, a Igreja Católica, os militares e a classe média. Eles temiam que o poder chegasse às mãos do povo ou que o comunismo tomasse conta do país.

Para evitar tal situação, em 19 de março de 1964, os conservadores organizaram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que reuniu milhares de manifestantes na capital paulista. A tensão pairava sobre o país, até que, no dia 31 de março, tropas militares invadiram as ruas. Acuado, o presidente foge para o Uruguai, deixando o caminho livre para os militares tomarem o poder na mesma noite.

Durante 20 anos, de 1964 a 1985, o regime fez vítimas e obras. O período entre 69 e 73, sob a presidência do general Emílio Garrastazu Médici, ficou conhecido como o milagre econômico. Este nome foi dado devido ao crescimento do PIB de quase 12% ao ano, a queda da inflação, os investimentos internos em infra-estrutura, a geração de milhares de empregos e a construção da Rodovia Transamazônica e da Ponte Rio-Niterói. No entanto, todo esse avanço custou caro e a dívida externa do Brasil foi às alturas. Ainda nessa fase, a Seleção Brasileira de Futebol conquistou o tricampeonato mundial na Copa de 70, o que serviu de publicidade para o espírito patriota instalado pelos militares.

Mas o país não vivia de alegrias. Os Atos Institucionais (AI) vinham como bombas para a democracia. Tratavam-se de um ato de força não previsto juridicamente com poder de alterar a constituição. Francisco Campos, autor do AI-1, dizia que “a revolução não precisa ser legitimada, ela se auto legitima”. O lema “Ame-o ou Deixe-o” era o símbolo do nacionalismo e do repúdio àqueles que eram contra a revolução, como o regime era chamado pelos militares, e eram “convidados” a retirarem-se do país.

A censura e a repressão marcaram com mãos de ferro os brasileiros mais reacionários. Agrupar-se para uma simples roda de viola já não era permitido. Qualquer movimentação de duas ou mais pessoas era vista como ação subversiva e os envolvidos eram presos, interrogados e submetidos à tortura. “É tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavra indireta, aviso na esquina”, dizia o poeta Carlos Drummond de Andrade.

Jornalistas, intelectuais e artistas eram os maiores opositores da ditadura, também os que mais sofriam com sua violenta forma de calar. O acesso às informações era restrito e, quando as tinham, não podiam noticiá-las por medo da censura. Os escritores e compositores tiveram que aprender a falar sem dizer, ou seja, utilizavam-se de metáforas para expressarem sua revolta sem correrem o risco de serem presos e censurados. Toda essa pressão originou uma das melhores fases criativas da música brasileira. Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Geraldo Vandré e outros foram consagrados pela coragem de colocarem “o bloco na rua”, como diziam os mais revolucionários. Suas canções foram lemas da juventude indignada da época e ainda hoje são regravadas.

Na memória dos que viveram naquela época, ficou um rastro de medo. Na mente dos que a estudam hoje, uma sensação de desconforto e revolta. Hélio Doyle, o jornalista, preso várias vezes naquele período, afirma: “o Brasil seria muito melhor hoje se não houvesse a ditadura em sua história”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do texto!!
O blog tá sempre muito legal! Parabéns pessoal!
Sugiro aqui um blog muito interessante para a aventura de vocês pelo jornalismo na Internet. Não sei se conhecem; é o "Código Aberto", no Observatório da Imprensa, http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs/blogs.asp?id_blog=2
Bom, tá aí a sugestão! Eu acho que tem muito a acrescentar!
=)
Ass: Isabel Vilela

Anônimo disse...

"Qualquer movimentação de duas ou mais pessoas era vista como ação subversiva e os envolvidos eram presos, interrogados e submetidos à tortura"

Aham.