Coluna - Futebol
O Frango e o Canarinho
por Vítor Matos
Custo a crer nos meus ouvidos, mas sussurram por aí que a FIFA cogita cancelar a Copa por causa da gripe aviária. Meu Deus! Depois de quatro longos anos de expectativa, eis a recompensa. Quatro longuíssimos anos tendo que agüentar os jogos do Flamengo na TV, vendo o Corinthians ser campeão e ― martírio dos martírios ― suportando bravamente os solos da Dayane dos Santos. E agora, a menos de cem dias do Mundial, quando finalmente ia chegar a hora de saborear o filé mignon, vem essa ducha de água fria. Sinto-me como o desbravador que, ao chegar ao final do arco-íris, encontra a sogra no lugar do pote de ouro. Ou pior, experimento a sensação de aguardar nove meses para descobrir, na hora do parto, que tudo não passava de gases. Mas, no meu papel de voz atuante das camadas introvertidas, não me calarei jamais! Recorrerei a toda pessoa pública de influência internacional capaz de garantir a realização do espetáculo: Kofi Annan, Galvão Bueno, J.K Rowling... Alguém vai se emocionar com meu apelo! Afinal, represento todas as pessoas que passam 80 % do seu tempo falando sobre futebol ― e os outros 20 dormindo. Na sua coluna de domingo, no Estadão, Luís Fernando Veríssimo confidenciou que é uma mente ociosa à espera da Copa. Será que vão deixá-lo esperando sentado?!
Tudo graças à famigerada Gripe do Frango. Algumas autoridades alemãs alertaram para o risco de uma epidemia caso o evento se realize. Muitos turistas circulando pelo território aliados ao fato da doença estar começando a mostrar suas garras nas vizinhas Polônia e Hungria formam, segundo aquelas autoridades, um coquetel perigosíssimo para a saúde pública. A FIFA, cautelosa que é e visando o bem-estar mundial, abriria mão do seu maior filão em prol de uma causa maior. Bom, essa é a versão divulgada pela grande imprensa. Eu ― que primo pela imparcialidade e justeza jornalística ― não posso deixar de ouvir o outro lado. Já comentam nos botequins que seria essa mais uma armação do primeiro mundo ― uma coligação FMI-FIFA ― contra a Pátria de Chuteiras. Segundo a lógica botiquenesca, para evitar o Hexa, só cancelando a Copa.
De todo modo, pelo menos agora dá para entender por que o Parreira não leva o Rogério Ceni. O técnico quer evitar frangos na Alemanha. É a coerência levada aos seus últimos limites. A continuar nessa toada, a pergunta que fica é: será que permitirão a entrada do ZaGalo na terra da Copa (infame, eu sei, mas irresistível)?
Vítor Matos é estudante de Comunicação Social na UnB e reveza esta coluna com Guilherme Rocha às quartas-feiras.
Um comentário:
Até quando a mídia vai continuar ignorando a grande fase do Dodô, e fingindo que não a ve?
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