Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sexta-feira, 10 de março de 2006

Artigo

Defendendo a Veja
por André Souza

A revista Veja é alvo de muitas críticas. Acusam-na de ser manipuladora, tendenciosa e parcial. Um lixo jornalístico. Boa parte dessas críticas, no entanto, tem fundamentos frágeis. Assim, este artigo não será somente uma defesa da revista Veja, mas também uma crítica a um tipo de argumento egocêntrico constantemente aplicado contra qualquer tipo de idéia, pessoa, grupo ou coisa.

Devemos esclarecer primeiramente que a Veja pratica o jornalismo opinativo. Isso significa que ela apóia algumas posições. Tais posições estão claras ao longo da revista e, caso alguém não consiga identificá-las, o problema está mais na capacidade mental do leitor que na publicação. Dizer que a revista é manipuladora, tendenciosa e parcial já é bem diferente. Alguns desses adjetivos podem até ser aplicados, mas com ressalvas. Ora, se a revista tem uma opinião, é claro que ela tem uma tendência, pende para um lado. Assim, de certa forma ela seria tendenciosa e parcial (mas não manipuladora). O problema do uso dessas palavras é que elas implicam a existência de um tratamento pouco jornalístico com os fatos. E é claro que há um grande equívoco nisso, pois opinar a favor de uma causa ou idéia não significa ignorar os fatos que depõem contra elas.

Não sou inocente a ponto de afirmar com certeza de que a revista segue todos os preceitos éticos. Tampouco posso dizer que a revista os desrespeite freqüentemente. Porém, as críticas feitas à revista não passam por esse ponto. São dadas justamente ao caráter opinativo da revista, críticas essas que acabam lançando dúvidas também sobre o tratamento dado aos fatos.

Não ignoro que haja críticos mais sérios, que não lançam dúvidas a respeito da imparcialidade com os fatos. Eles simplesmente não gostam do modelo de revista opinativo e preferem algo mais neutro. E, de fato, a Veja exagera em alguns pontos, como nos elogios constantes ao Chile. Esses críticos sérios (e todos nós), no entanto, têm a opção de procurar uma publicação que lhes agrada mais. Não são obrigados a ler a Veja nem a concordar com ela. E é aí que está o ponto frágil dos críticos menos sérios: “a Veja é ruim porque a opinião expressa por ela é diferente da minha e, assim, não me agrada”, embora ninguém diga isso explicitamente. Ora, a Carta Capital também é opinativa (e uma boa revista, embora eu esteja mais próximo das posições da Veja), mas não é tão criticada pelos que adoram falar mal de sua concorrente.

André Souza é estudante de Comunicação Social da UnB.

3 comentários:

leylelis disse...

Pra mim, não há o menor problema da Veja ser opinativa, seja de esquerda, direita, centravante, o que for. Pelo contrário, ela enriquece o nosso jornalismo, sendo mais uma versão, um ponto de vista dos fatos, atos e espirros de cada dia.

E, claro, existem vários tipos de críticos da VEJA. Aqueles que a elogiam, falam mal, têm ressalvas, que elogiam com bons argumentos, que falam mal por falar, que reclamam com uma forte base de argumentações...

Também, ao longo das matérias, percebe-se realmente o caráter opinativo da revista. Mas minha grande dúvida e preocupação é a Veja realmente assumem isso.

Não posso afirmar isso porque não apurei com seus donos e editores-chefes. Mas gostaria de saber. É até uma sugestão que faço para o SOS Imprensa (ou para mim mesmo): mandar um e-mail para Veja, perguntando se ela é uma revista opinativa, ou de opinião. E saber se sua opinião se restringe aos colunistas ou a todas as matérias.

Se a resposta for sim, eu ficarei super contente. Continuarei não gostando de seu estilo de jornalismo. Mas, aliviado por saber que ela é sincera com os leitores.

No mais, já tenho até medo de citá-la em qualquer roda pois, assim como se criou um imaginário social acerca do movimento estudantil como rebeldia estilo anos 70, criticar a Veja virou sinônimo de radicalismo bobo, que não constrói (independente dos argumentos).

Abraços, Leyberson.

Anônimo disse...

Pra mim, jornalismo é sobre isenção, por mais difícil que seja para se chegar até isso.
A parte opinativa não pode ser confundida com todo o conteúdo da revista. A Veja pode sim ter um posicionamento a respeito de qualquer assunto - muitos jornais têm. O fato é que isso deveria estar restrito ao editorial, às colunas ou algo do gênero.
Além disso, especular pelo mero prazer de se especular é sem sentido. Não acrescente em nada aos leitores.

Anônimo disse...

Concordo com o anônimo acima. A revista é sim manipuladora, pois é uma revista que grande parte da população tem acesso, e se pauta nisso para poder divulgar suas opiniões tendenciosas (sim, tendenciosas). Com certeza não existe notícia 100% imparcial, mas a Veja seguramente é bem parcial. A Carta Capital é muito diferente, ela sim tem um jornalismo opinativo, mas nem por isso, mantém-se imparcial em muitas oportunidades.

Parabéns pela coragem de defender um "lixo jornalístico" como você mesmo definiu. Você tem um futuro brilhante na Veja (ou na Época, ou na IstoÉ) pela frente!