Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


domingo, 5 de fevereiro de 2006

Artes Cênicas em Brasília

Idealizador e coordenador do festival A Experiência da Cena fala ao Blog do CACOM sobre a UnB e as dificuldades da cena brasiliense

por Marco Prates

Marcus Mota, professor de Artes Cênicas na UnB, está orgulhoso quanto ao crescimento de sua área na universidade. O que antes eram duas salas se transformou em um departamento independente com sede própria e linha de pós-graduação. Há 18 professores com as mais diversas formações, o que possibilita aos alunos "um contato crítico com a tradição e com uma diversidade de técnicas e habilidades". De fato, artistas formados na universidade têm notoriedade, fruto do maior respeito conquistado pelo departamento em sua história.

Sobre a situação da arte teatral em Brasília, Marcus Mota visualiza dois aspectos. A entrada do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), da Caixa Econômica e a existência de editais de fomento para cultura proporcionam um horizonte de trabalho para os artistas na cidade. Claramente, uma efervescência cultural é visualizada na capital. O que há hoje em termos de teatro são, além de peças do eixo mais estabelecido Rio-São Paulo, produções brasilienses que carecem de temporadas mais estáveis e duradouras, sinônimos de um cenário amadurecido. São comuns obras que necessitam de seis meses de preparação, de complexa encenação técnica e artística, mas possuem temporada de cinco a seis apresentações. Mesmo os espetáculos do Sudeste permanecem aqui por dois finais de semana. No espaço do CCBB, por exemplo, cada peça do festival só será encenada uma vez.

Esse cenário acarretou no que Mota chamou de "muita gente para pouco espaço". A solução rotativa veio para suportar o contingente de artistas e trabalhadores. "Falta profissionalização no teatro em Brasília", afirmou o coordenador. Nas mãos de entidades públicas, que se sobrecarregam em funções e não procuram um eixo profissionalizante, as peças se limitam a migrar entre as instituições sempre que há espaço. Necessita-se, segundo Mota, de um ambiente onde as produções se sustentem sob os critérios de mercado. "Não há mais diferenciação entre teatro experimental e comercial", frisa.

Se a iniciativa merece aplausos pela conquista de um maior espaço para o trabalho desenvolvido na universidade, a publicidade do evento não se mostrou à altura. Embora vários cartazes se encontrem colados lado a lado no CEN (Departamento de Artes Cênicas), não havia, até o dia de ontem, um cartaz visível no ICC inteiro ou no Restaurante Universitário, locais de intensa movimentação na universidade. Entusiastas da arte teatral desconheciam ou pouco sabiam do evento. Propaganda se faz de movimentação e um festival de espetáculos e palestras que extravasa o universo acadêmico há muito deveria ter tido seus dizeres afixados nos murais estudantis.

A parceria serve de embrião para futuras iniciativas bem-sucedidas entre a universidade e instituições externas no que tange às Artes Cênicas. Um trabalho que exigiu intensa dedicação e que merece ser contemplado, se não por conhecimento e incentivo, pela qualidade esperada das obras. A peça "Seis Personagens em Busca de um Ator", dirigida por Hugo Rodas, venceu seis prêmios no 18º Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau, em 2004. Prêmios a parte, se os espetáculos entreterem o público e este for visto sorrindo ao fechar das cortinas, todo esforço terá valido a pena.

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