Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 18 de abril de 2007

Futebol!

O Vaticínio de Sapão
por Vítor Matos

Durante a vida inteira, sempre tive o futebol como maior fonte de consolação. Toda vez que dava alguma coisa errada, os negócios fugiam dos eixos, os projetos desmoronavam, eu sentava diante da TV. Ali nunca faltou uma bola rolando. Toda decepção se desvanecia no momento do pontapé inicial. Não tinha dia ruim o suficiente, não tinha amargor concentrado que não sumisse na presença do gramado, do juiz, e dos 22 jogadores. Meus ferozes exorcistas.

Eis que me flagro, em pleno domingo, na hora do Botafogo x Cabofriense, completamente insensível ao que se passava na tela defronte. Mudei de canal, fui pro jogo do São Paulo. Nem por isso deixei de estar alheio à TV. Concluí como quem já desconfiava que esse dia estava próximo: “O futebol não me desperta mais nenhuma emoção”.

E se só o futebol tivesse ficado sem-graça, eu não estaria reclamando. Atribuiria essa falta de interesse não a mim, mas ao baixo nível dos jogos e dos jogadores a que somos submetidos. Mas a questão vai além, infelizmente para esta carcomida alma. Nada mais me chama a atenção. Filmes, comida, música, companhias, bate-papo, piadas. Tudo converge para o mesmo marasmo.

Cheguei à conclusão de que sou um aposentado aos 21 anos. Sem perspectivas, sem aspirações, apenas dominó e bebida. Todas minhas potencialidades já foram exploradas e esgotadas, não sobrou nada. Virar um rock star? Tarde demais. Piloto de fórmula 1, ator da Malhação, guerrilheiro rebelde? Já era. Contente-se com sua vida miúda.

Comecei a folhear as revistas de fofoca, para descobrir o que os famosos faziam para superar a insatisfação. Descobri que a Angelina Jolie foi dar à luz na Namíbia. Não posso dar à luz. Nunca irei à Namíbia.

É nessas horas que a gente começa a alimentar os mais estranhos hábitos. Ontem mesmo resolvi passear no cemitério. Nunca tinha dado o ar da minha graça por aquelas cercanias. Aproveitei para visitar o jazigo da minha bisavó, morta em 98. Não tínhamos um relacionamento lá dos mais estreitos quando ela era viva, então achei que era uma boa ocasião para reparar essa falha. Mas não a achei no meio de tanta cruz. Qualquer dia eu volto (como visitante, fique bem claro), mesmo porque gostei muito das florzinhas que enfeitam os jardins da morada eterna.

Toda essa sorte de desilusões me previu meu amigo Sapão, contumaz observador da natureza humana. Ele sempre alertou, a todos aqueles que se dignassem a ouvir, dos perigos e armadilhas que nos aprontam a crise dos 21. Tinha razão, tinha razão! E o horizonte não é menos cinzento, nem menos tempestuoso. “Depois da crise dos 21, vem a dos 22”. Estarei esperando (fazer o quê?), provavelmente sentado numa lápide, apreciando a vista.

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