Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 14 de março de 2007

Futebol!

O cemitério dos elefantes
por Vítor Matos

A natureza e seus mistérios insondáveis. Sortilégios e segredos contidos em cada folha caída, em cada pedaço de musgo. O desconhecido. Na savana africana, palco de todas as excentricidades e bizarrices que podem engendrar a fauna e a flora, um fenômeno em particular consegue ser mais intrigante que todos os demais. A marcha fúnebre dos elefantes. Contam que tais paquidermes, a determinada altura de suas vidas, mais precisamente quando sentem avizinhar-se a morte, iniciam uma solitária jornada pela selva. Para onde vão, talvez nem eles saibam. Caminham por instinto, inconscientemente, quase a esmo. Percorrem trilhas desconhecidas e lugares que nunca tinham pisado antes. Parece que alguma força oculta os guia. No final da viagem, atingem uma clareira coberta de ossadas e restos mortais, o cemitério dos elefantes. Ali, balançam a tromba pela última vez, antes de morrerem exatamente no mesmo lugar aonde tombaram os seus antepassados.

No futebol sucede fenômeno semelhante. De uns anos pra cá, o Real Madrid, um dos times mais ricos do mundo, ficou famoso por contratar grandes craques e estrelas renomadas para seu elenco. As aquisições milionárias, no entanto, não surtiram o efeito desejado. Dentro de campo, a equipe não consegue se acertar e coleciona um dos períodos de maior estiagem da sua história. Não conquista títulos há três temporadas ― fato que só havia ocorrido no início da década de 50 ― e nada indica que 2007 será o ano da redenção. O Madrid foi eliminado, na semana passada, da Liga dos Campeões da Europa (principal torneio interclubes do mundo) e ocupa apenas a 4a posição no Campeonato Espanhol. Técnicos, jornalistas e estudiosos não se cansam de fazer a pergunta: por que as mega-estrelas do futebol mundial não conseguem brilhar no time merengue?

Robinho, o Rei das pedaladas, o menino da Vila, o novo Pelé. Quando saiu do Santos rumo ao Real, muitos apostavam que estava ali a nova sensação do futebol. A realidade foi outra. Robinho entrou numa fase crítica de sua carreira, não acerta um drible sequer, amarga a reserva e muitos já chegam a duvidar de sua capacidade. O mesmo se deu com David Beckham. Chegou ao time espanhol credenciando pelo belo físico e futebol. Depois de algumas temporadas, não foi capaz de repetir as atuações que tinha no Manchester e já anunciou que no meio do ano vai para um inexpressivo time de Los Angeles. Ronaldo, outro triste caso. Aterrisou em Madrid como artilheiro da Copa de 2002, o homem que tinha dado a volta por cima. Saiu de lá obeso, vaiado e desvalorizado. Zidane, Nistelrooy, Júlio Batista, Cassano. A lista é enorme. Os craques são atraídos, quase por magnetismo, até o Real Madrid, assim como os elefantes inexoravelmente são levados à morada eterna de suas carcaças. O Real Madrid é o cemitério dos elefantes do futebol.

Ninguém faz um animal com uma tromba pendurada no lugar do focinho, acrescenta orelhas escandalosas e lhe dá o peso de um encouraçado à toa. A natureza pretendia enviar uma clara mensagem à humanidade. “Prestai atenção aos elefantes”. Talvez todo os mistérios da existência estejam contidos na triste sina desses animais. Pode ser que a vida não seja mais que uma caminhada certeira rumo à morte. Recentemente, a sociedade tem demonstrado um enorme interesse nos processos de deslocamento das diversas espécies. Vide o sucesso de obras como “A Marcha do Imperador” e “A Fuga das Galinhas”. À marcha fúnebre dos elefantes, no entanto, ninguém dá a mínima, a mínima! Lamentável. O homem, esse sim, parece caminhar a esmo.

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