Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 7 de março de 2007

Futebol!

Por que as mulheres odeiam futebol?
(especial para o dia da mulher)
por Vítor Matos

Durante décadas a pergunta habitou o hall dos grandes mistérios da humanidade. O que leva as mulheres a odiarem o futebol? Nunca se chegou a uma resposta satisfatória, porque a questão era insistentemente tratada com leviandade, longe do rigor científico exigido para problemas assim. Diversas teses maldosas sobre as raízes da ojeriza feminina por esse esporte foram difundidas mundo afora. Brotavam, aqui e ali, insinuações de que, na verdade, é um eventual desconhecimento das regras do jogo que leva as mulheres a repugná-lo. Falácia! Isso sem falar da doutrina machista/egocêntrica, segundo a qual as mulheres sentem ciúmes da paixão dos homens pelo futebol. Charlatães! Machistas! Visigodos!

Chega de preconceitos e afirmações pouco fundamentadas. Cansado de ouvir tantos disparates, este colunista partiu em uma jornada solo em busca da verdade por trás de tão maltratado tema. Ao longo da última semana, ele ouviu diversas mulheres das mais diferentes idades e classes sociais. Pela primeira vez na história da grande mídia, alguém abria espaço para que elas definitivamente expusessem seus argumentos contra o futebol. O resultado do trabalho ― que será exposto nos parágrafos seguintes ― sepulta preconceitos, implicâncias e mostra ao mundo o genuíno ponto de vista feminino.

As mulheres são, sobretudo, seres sérios. Mais que isso, sabem que a vida deve ser encarada com responsabilidade. Tem a ver com o instinto materno, o zelo pela segurança da prole. Elas são a fonte de sensatez, o ponto de equilíbrio da sociedade. Quantas vezes nossas mães nos impediram de comer todo o tubo de pasta dental? Ou nossas avós nos alertaram para os perigos de se brincar no sereno? Elas sempre estiveram certas, sempre. As mulheres estão lá para nos lembrar que a vida não é uma brincadeira, não é um reality show do horário nobre. Há obrigações, limites, normas. Sem isso, o caos reinaria.

Para pessoas dotadas de tamanho discernimento e senso de responsabilidade, meros passatempos mundanos são absolutamente supérfluos. Como compreender que um indivíduo perca tanto tempo se preocupando com futebol enquanto há tantos assuntos mais sérios para se pensar? Na cabeça de uma mulher, é inconcebível que alguém chore o joelho machucado do Nilmar ou comemore o gol do Madureira ao mesmo tempo em que o efeito estufa ameaça nossas calotas polares. Que motivos há para gritar um gol, se a bolsa na China despenca e a Amazônia definha? Para essas mentes, o futebol é inconveniente, despropositado e inútil.

Quer saber? Elas estão cobertas de razão. É justamente por se interessarem pelos assuntos realmente relevantes que as mulheres têm ampliado cada vez mais seu espaço no mercado de trabalho. Em vez de perderem tempo com brincadeirinhas infantis ou diversões sem sentido, as mulheres se concentram nas questões cruciais da vida. Não à toa, assumiram as rédeas da sociedade. Enquanto você, meu leitor, perde tempo assistindo a uma mesa-redonda sobre a rodada do Campeonato Brasiliense, uma mulher está tomando o seu emprego.

A leitora sabe o quanto é doloroso para este colunista chegar a tais constatações. Quanto mais ele percebe a pertinência do desprezo feminino pelo futebol, mais ele se deprime. E será assim, sentindo-se um pulha, que ele, nesta quarta-feira, sentará defronte à TV às 16 horas e de lá só sairá à meia-noite. Futebol europeu, carioca, Libertadores. Este colunista é um caso perdido. Como diria sua avó, como repete sua mãe. Elas estão sempre certas.

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