Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 3 de fevereiro de 2007

Artigo

Circo dos horrores de novo?
por Ânderson Corrêa

Finalmente. Agora sim o ciclo eleitoral terminou. No segundo turno, com 18 votos a mais que Aldo Rebelo, candidato de Lula, o deputado petista Arlindo Chinaglia foi eleito presidente da Câmara dos Deputados. No Senado, Renan Calheiros foi reeleito. As mesas diretoras também já estão definidas. O clima de determinações sugere bons ventos de segurança, controle, renovação, certo? Errado. Soa falso, isso sim. O futuro está nas mãos da mesma correlação de forças políticas que criou o mensalão, o esquema dos Sanguessugas...

Moralização é a palavra de ordem. Nenhum dos três candidatos deixou de usá-la em seus pronunciamentos. Mas o discurso de resgate da imagem parlamentar logo cai no descrédito se considerarmos alguns fatos. São incríveis, totalmente inexplicáveis. Como justificar a presença de Valdemar Costa Neto, líder do Partido Liberal (PL), em uma nova legislatura? Minha gente, ele foi reeleito após ser envolvido no esquema do mensalão! Pior: admitiu ter recebido dinheiro ilegal, que utilizou na campanha de 2002. E ainda: renunciou ao mandato, confirmando o comprometimento com as atividades ilícitas.

É possível pensar em reforma política se as deliberações que incidem diretamente no cotidiano da população passam por nomes como Paulo Maluf, Sandro Mabel, José Genoino, Fernando Collor, José Sarney. Existem rumores de que até mesmo o ex-superministro de Lula, José Dirceu, ainda tem poderes e estaria negociando cargos. Não sou plenamente cético quanto ao que os novos deputados podem fazer pelo Brasil, mas tenho motivos sobrando para alimentar pessimismos. O quadro que se configurou dá muitas razões para isso.

Ao contrário de mim, os deputados estão muito otimistas. É tanto que algumas declarações chegam ao ridículo. Parecem até deboche. “Este é um plenário santo”, respondeu Paulo Teixeira (PT – SP) quando questionado sobre as expectativas em relação à posse dos colegas e ao início dos trabalhos. Já o deputado Henrique Fontana Júnior (PT – RS) acredita ser legítimo o fato de as maiores legendas ocuparem as principais posições da Mesa Diretora. “É preciso respeitar o princípio da proporcionalidade”, disse. Ele deve desconsiderar que as cadeiras já estão marcadas há muito tempo e que o troca-troca partidário já mudou bastante as coisas. Nas últimas eleições você votou em um candidato do partido X. Pois é. Ele pode ser de oposição agora.

Por fim, a maior das avacalhações. O que Clodovil Hernandes e Frank Aguiar estão fazendo na Câmara? Sem comentários, exceto uma ressalva. Representar um segmento social não significa ocupar uma poltrona no Legislativo e “participar” das sessões. É necessário conteúdo, destreza, habilidade, planejamento. Talvez um dia eles tenham tudo isso. Não duvido da capacidade de um ser humano obstinado, resoluto. Mas, definitivamente, essas virtudes não são características desses nobres senhores. As condutas são muito reveladoras.

2 comentários:

Anônimo disse...

Qual o problema com o Frank Aguiar? Ou com a conduta dele? Não é muito cedo para julgar? Políticos de carreira continuam fazendo merdas por aí. E nem vou entrar no mérito da "primordial" formação acadêmica: Maluf é engenheiro, Sérgio Naya idem... Antes de pré-julgarmos essa geração de legisladores que teremos pelos próximos quatro anos, vamos ver o que eles fazem. E, para quem gosta de dizer que a corrupção prospera no país, um fato: apenas 7, de mais de 80 sanguessugas investigados, foram reeleitos. Ainda é muito, mas é melhor do que algumas eleições de parcos anos atrás, e pode indicar um progresso...

Anônimo disse...

O problema não é tanto a pessoa do Frank Aguiar, mas o fato de votar em alguém pelo fator "celebridade" ou "bizarrice". O autor, inclusive, citou também Clodovil Hernandes, e não apenas Frank Aguiar.