Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Entrevista

Uma voz contra a corrente na área da Comunicação

Pesquisador aponta lacuna entre as exigências do mercado e a pesquisa acadêmica.
por Lígia Borges

Uma voz importante se levanta contra a tese de que o futuro e o sucesso profissional do estudante de Comunicação encontram-se numa redação de jornal, nas badaladas agências, ou na rota de uma grande produção cinematográfica. É a do uruguaio Pedro Russi Duarte, atual professor da disciplina Métodos Técnicas e Pesquisa em Comunicação na Universidade de Brasília (UNB). Pedro acredita que a carreira acadêmica é uma opção a ser levada em conta pelo estudante de Comunicação Social. Apesar de ser um campo de pesquisa novo, a área precisa de pessoas interessadas que estejam dispostas a se dedicar à pesquisa científica. Autor de uma frase como, ” A Academia não é para todo mundo”, o professor analisa a situação da Universidade hoje, e as lacunas existentes na formação dos Comunicólogos, que muitas vezes são preparados apenas para mercado de trabalho,enquanto o campo da pesquisa é deixado de lado, uma contradição, já que a Universidade é um espaço para a formação de pensadores.

Como está a pesquisa no campo da Comunicação?
A comunicação como campo é nova, não está definida, pois se encontra em processo. As interfaces com a Política e a Antropologia, por exemplo, estão sendo discutidas. Trata-se de um campo que está nascendo e avançando, uma vez que se encontra ainda muito espalhado. A pesquisa na área ainda se confunde e se mistura com outros estudos.

De que maneira você analisa o papel da Universidade na formação das pessoas?
A Universidade está se preocupando menos com a questão formadora e pensando muito no mercado. Deveria ser um espaço para a produção do conhecimento, e essa noção de conhecimento articulado está se perdendo.

O que você quer dizer ao afirmar que a Universidade não é para todo mundo?
Não é todo mundo que tem vocação e gosta de estudar, pesquisar, refletir, pensar. É nesse sentido que afirmo que a Universidade não é algo obrigatório para todos.

Que mudanças você notou entre a Universidade no Brasil e no Uruguai?
No Uruguai não é melhor nem pior, é diferente. Lá não tem vestibular, todo mundo pode estudar numa Universidade. Por outro lado, essa democratização mal compreendida acabou levando a perda do horizonte formador, pois a idéia de pesquisa como força que sustenta a Universidade ainda não está definida lá.

Antes de ser professor da UNB você deu aulas numa Universidade particular em Santa Catarina. Notou alguma diferença entre a instituição pública e a privada no âmbito da pesquisa?
O contexto é diferente. O estudante muda, o cotidiano dele em sala é diferente. Na UNB sinto um clima cosmopolita.

O que está achando de Brasília?
A primeira impressão que tive de Brasília é de uma cidade na qual é possível ver o horizonte, me faz lembrar a questão da natureza, das árvores. É agradável, me senti numa cidade cosmopolita. Sinto que aqui a estrutura pressiona menos, permite que você faça seu próprio caminho. A Universidade pública em geral permite isso, você tem a oportunidade de caminhar.

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