Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


domingo, 21 de janeiro de 2007

Editorial

Muito já foi dito sobre a tragédia na obra do Metrô de São Paulo. Talvez seja o momento de desviarmos o olhar: como foi o tratamento dado pelos meios de comunicação ao acidente? O desmoronamento ocorreu numa região arterial da maior cidade do país. Foi, por isso, noticiado desde os primeros instantes.

Numa análise geral, o saldo não fica muito positivo para a imprensa. Especulações, exageros, informações duvidosas noticiadas como verdade... Talvez, para consolo dos jornalistas, o troféu Humor Negro tenha ido mesmo para a Red Bull, que se ocupou em se publicizar distribuindo energético para as equipes de resgate. Mas não há como ignorar o mau papel desempenhado pela imprensa na maior parte do tempo.

Em primeiro lugar: quais são os limites para a retratação do sofrimento humano? Sem dúvida, a resposta não é simples. Mas é óbvia a constatação de que já passamos do ponto. O choro de uma mãe que, desesperada, mal consegue articular as palavras, é uma cena da qual os espectadores deveriam ser poupados. Não acrescenta nada: é a espetacularização do sofrimento. A dor é pessoal e deveria ser preservada.

Tragédia dá audiência. A óbvia afirmação explica a tentativa de se fazer uma cobertura full time dos desdobramentos do acidente, como uma emissora de TV optou por fazer. Numa situação como aquela, o desencontro de informações é grande; por outro lado, não se descobriu um corpo a cada minuto: no fim das contas, o apresentador precisava se ocupar em narrar a retirada de mais uma porção de terra. Ele, que devia ter sido recomendado a não se calar em nenhum instante, tinha 100% de chances de dizer bobagens.

O exagero prosseguiu. A imprensa, ávida por encontrar culpados, dava voz a qualquer um que, mesmo anonimamente, se dispusesse a fazer supostas acusações de negligência. Ao governo, à empreitera, aos operários. Simplesmente não conseguem (e isto é culpa do nosso imaginário também) conceber que não haja culpados (ou que eles ainda não tenham sido identificados). Os meios de comunicação atribuíram a si mesmos o papel de investigadores. Não raro, essa postura causa estragos incontornáveis. Recomenda-se prudência. Mas, como se sabe, a prudência não dá audiência, não aumenta a tiragem e nem atrai anunciantes...

O desmoronamento na linha 4 do metrô aconteceu bem em frente à sede da maior editora do país. Talvez seja um mau presságio. Na dúvida, é bom levar a sério.

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