Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Futebol!

Hipertricose Auricular
por Vitor Matos

Está sempre faltando um detalhe.

Éramos eu e o computador, numa dessas madrugadas dezembro adentro. Terminávamos um vídeo, trabalho de última hora pra faculdade. A todo momento, algum obstáculo aparecia. Erro 404, incompatibilidade de formatos, seu computador precisa ser reiniciado. Depois de muito perrengue, finalmente a obra estava concluída. Todavia, a despeito de toda minha dedicação, ela ainda estava repleta de pequenos erros. Não adianta teimar, nada poderá ser perfeito. As imperfeições são a prova de que Deus existe. ELE precisava de alguma distração para agüentar o ócio da eternidade. Fez o mundo cheio de defeitos, e com isso garante boas gargalhadas para si.

Na natureza, cada átomo resplandece a imperfeição. Veja o triste exemplo da abelha. Foi dotada de um poderoso ferrão para se defender de qualquer inimigo importuno. Pois bem. Só que esse pobre inseto, ao fazer uso de sua arma para livrar-se de uma ameaça, acaba morrendo. A abelha só usa o ferrão uma vez na vida. Deus deve rir às pampas desse paradoxo.

E as vacas? Esse é o caso mais absurdo! Elas têm quatro estômagos, mas só comem capim! Capim, amigos! Se eu fosse dotado de um arsenal digestivo desses, manteria sempre um bom pedaço de bacon na mochila. Nada pode ser perfeito.

Dentre os ilustres seres humanos, aquele que possuía mais defeitos era, sem dúvida, Pepino, o Breve, rei dos francos na Alta Idade Média. Tão prejudicado era o monarca, que mesmo comandando o reino a punhos de ferro, não conseguiu escapar às piadas da plebe. A maioria das deficiências de Pepino, o Breve, são, infelizmente, impublicáveis aqui nesse sacro espaço. Todavia, sabe-se que a maioria delas acabou lhe rendendo o incomum epíteto.

Eu mesmo tenho lá meus erros de fabricação, quem não os tem? Na escola, meus coleguinhas achincalhavam comigo, dizendo que minha orelha era peluda. Um dia cheguei na sala de aula e tinha a foto de um coala na minha carteira. Fiquei arrasado. O doutor Francis disse que não havia motivo para vergonha. Hipertricose auricular, ou bigode na orelha, era algo mais do que comum na raça humana. Contam que, inclusive, William Wallace escondia mapas de guerra estratégicos sob os caracóis de seus ouvidos. Fiquei feliz.

Na verdade, se tem uma coisa que acalenta o indivíduo quanto aos seus defeitos, é apontar o dos outros. A respeito desse mundial de clubes que está acontecendo no Japão, por exemplo. Querem fazer o Inter de Porto Alegre acreditar que é pior do que realmente é. Estão exagerando as deficiências do time gaúcho, insuflando demais os pontos fracos. Como se o Inter estivesse anos-luz atrás do Barcelona. E por acaso o Fernandão é pior que o Deco? E será que o Iarley fica devendo ao Giuly? (não é possível) E mesmo o tal do Pato, por mais que quase não tenha participações no time titular, ele não deve ser pior que o Gudjhonssen, o islandês do Barça. O Inter não é tão inferior quanto faz crer a imprensa européia. Estão querendo colocar pêlos na orelha do time gaúcho.

No fundo, no fundo, só um jogador nesse Mundial realmente desequilibra. É o Ronaldinho Jackson. Mas ele também, como acabamos de ver ao longo dessa coluna, tem lá suas deficiências.

O problema é que até agora ninguém sabe quais são.

P.S 1: No dia seguinte à visita ao doutor Francis, voltei à escola cheio de auto-estima. Chegando na sala, vi que tinha outro papel na minha carteira. “Tudo bem, eu já superei o coala”, pensei. Mas o conteúdo era outro. Tratava-se de um desenho da Rapunzel jogando suas longas tranças para o príncipe.

P.S.2: As tranças não eram feitas com cabelos da cabeça.

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