Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Ultra_som

por Carolina Martins e Carolina Menkes

Zeca Camargo é chefe de redação, repórter e apresentador do Fantástico desde 1996. Trabalhou na MTV e na TV Cultura. Sua experiência profissional de imprensa começou na Folha de S. Paulo, na qual chegou a ser editor do caderno Ilustrada, e passou ainda pela revista Capricho. Parece o suficiente, mas ainda há mais. Foram produzidas 47 reportagens para o Fantástico em que os telespectadores escolheram destinos de todo o mundo para Zeca conhecer durante quatro meses. Ele escreveu o livro A Fantástica Volta ao Mundo sobre o programa, lançado ano passado.

No projeto Sempre um Papo, que teve lugar no Centro Cultural da Caixa no dia 10 deste mês, o jornalista falou sobre música e seu mais novo livro, De A-ha a U2, onde retrata parte das inúmeras entrevistas com bandas que fez durante sua trajetória. Informal e descontraído, começou o debate com uma música jamaicana da década de 60, que escutou pela primeira vez na Tailândia. “É uma bobagem, mas eu acho uma maravilha”, confessa. E foi a partir desse “reggae meio disfarçado” que decidiu passar em palavras o quanto gosta de música.

Apesar de se definir como uma pessoa muito musical, Zeca revela que não toca nenhum instrumento.Tudo começou com a dança, que praticou por dez anos, de 1981 a 1991. Entrevistou a cantora peruana, famosa nos anos 50, Ima Soumak, em Nova York. “Suas músicas eram tão malucas e diferentes que fiquei interessado em conhecer músicas diferentes do mundo inteiro”, explica Zeca. Conhecedor de músicas alternativas de várias partes do mundo, mostrou algumas durante o bate-papo. Uma delas foi indiana que tem somente o refrão em inglês, repetido nada menos que 27 vezes. Outra foi um blues do início do século 20, tirado de um documentário sobre a biografia do quadrinista Robert Crumb.


Zeca Camargo: muitas histórias para contar

“O que tem na música que é tão esquisito que me faz ter comoção?” -indaga e completa- “música boa pra mim é a que eu acabei de escutar e tenho certeza que quero ouvir de novo”. E sem nenhum tipo de preconceito. Atualmente escuta de Takka Takka à Kelly Key. “A loirinha, o playboy e o negão: faixa oito do CD ao vivo”, indica como sendo uma das músicas atuais de caráter social mais relevantes . Dá-lhe Kelly Key.

Sobre a cultura pop do século 21, Zeca Camargo se diz muito otimista. “Não passa um mês sem que eu descubra algo novo”. Define o cenário musical como pulverizado, um ramo onde não existe uma convergência e sim “muitas micro-tendências”.

Na lista de entrevistados, ídolos nacionais e internacionais. “Entrevistas para veículos é bussiness. Ele [o cantor] dá a entrevista porque quer vender o disco e promover o show.
Na verdade, está te usando e vice-versa”. Inconvenientes e vexames também fazem parte de sua coleção. Sua primeira grande entrevista internacional foi com Sting, em 1990, na qual não podia falar de música. Segundo ele há muitos empresários que restringem assuntos essenciais.
“Entrevistar é perguntar o que a pessoa não quer contar”. No entanto, respeitar as condições do entrevistado é fundamental e faz toda a diferença, mas chamar a atenção também é importante. “Comecei a encarar a entrevista como missão de fazer alguma coisa diferente, sair do curricular. É realmente muito complicado estar diante de pessoas tão famosas. A grande dificuldade é separar o que o fã e o que é ser jornalista. Você não pode ser tiete”, constata.

Ao contrário de sua entrevista mal-sucedida com o Damon Albarn, vocalista da banda inglesa Blur, que estava mal-humorado no dia, Zeca acredita que a entrevista com Bono Vox, do U2, foi uma das melhores que já fez. “É muito fácil dividir quem é o verdadeiro artista de quem é apenas um manequim controlado pelos empresários”, diz Zeca.

Dicas para uma boa entrevista não faltaram nesta edição do Sempre um Papo. Dicas de música também não. Risadas e palmas foram muito escutadas no auditório, que teve a palestra finalizada ao som de uma banda desconhecida para a maioria: Bran Van 3000, com a música Everywhere. “[A música]Termina em estado de elevação absurda”, completa Zeca Camargo, que com certeza deixou grande parte do público em igual estado de elevação.

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