Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 7 de outubro de 2006

Dia do Leitor

Aeroporto
por Maíra Brito

Eu acordei com medo. Durante toda noite me mexi e remexi. Acordava assustada com barulhos e luzes. Tomei um banho e despertei. A vida tava ali. A realidade andava mais amarga que o habitual. Uma chuva forte ameaçou cair. Não era época de tempestades, era seca, talvez por isso chovesse. Meu coração havia secado, os maus amores haviam me consumido ao extremo. Agora eu tinha medo de amar. O telefone tocou, era a carona dizendo que chegava em dez minutos. Coloquei aquele casaco listrado que ele tanto gostava e escovei os dentes.

Lá estávamos todos no aeroporto. Nada dele chegar. Eita! Será que aconteceu algo? Não, não, nós que chegamos cedo demais. Opa! Olha ele ali! Com a mochila amarrotada... A gente levou faixas e cartazes, tudo para a despedida. O vôo atrasou. Melhor assim, mais tempo pra gente curtir os últimos momentos juntos.

Hora do embarque. Choros e insistentes ecoavam pelos aguão do aeroporto. Eu chorei pouco, não sei. Não sei chorar assim, em público. Abracei-o com força, disse que ele era muito especial para mim, que sentiria sua falta, mas que era ótimo ele ir, ele precisava crescer, amadurecer e só assim ele obteria tudo isso. Ele chorava, ele era muito mais mole do que eu, o amor não teria sido tão rude com ele como foi comigo. A salgada lágrima atingiu meus lábios. Na verdade, era muito mais amarga que salgada. Ele acenou e se foi. Ninguém sabia quando seria sua volta, nem ele. O tempo e a vida o trariam de volta.

Sem muitas palavras voltei pra casa. A chuva já tinha amenizado, mas o céu ainda estava cinzento, parecia que os deuses estavam a chorar também. Tirei o casaco, os sapatos e um papel da bolsa. Era um poema de Vinícius. Tive medo de entregar. Tive medo o tempo todo. Por isso ele tinha ido embora. O tempo nos faria perder o medo. Eu chorei, um choro forte e doloroso. Pensei em todos nossos momentos, bons e ruins; em nossas brigas e risadas. Peguei o papel com umas letras redondinhas que revelavam o Soneto da Separação. Li e reli. Chorei mais. Botei o pijama e dormi. Dormi para que aquele pesadelo acabasse e que aquele adeus nada fosse além de um sonho ruim.


Maíra é estudante do 2º semestre de Jornalismo do UniCeub.

Sábado é o dia do leitor no Blog do Cacom. Se você quer publicar seu texto aqui, basta enviá-lo para o nosso e-mail: blogdocacom@gmail.com.

Nenhum comentário: