Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


sábado, 5 de agosto de 2006

Cartas ou Livros?

por Victor Longo

Há momentos da vida em que é preciso fazer escolhas, e as fazemos. Há, entretanto, a vida em si, figurada numa grande escolha - a mais difícil, a mais decisiva. Falo na decisão de escolher em quê ser superficial. Quando lemos livros, crescemos muito como indivíduos, e temos sempre mais a acrescentar. Quando estudamos, somos profundos em nossos aprendizados, dominamos o conhecimento, conduzimo-nos melhor pelos caminhos do cotidiano. Aprendemos a escolher melhor por onde ir.

De quando em vez, ou quase sempre, lemos, pensando em fugir da superficialidade, com um objetivo evidente: o de ser reconhecido, bem sucedido profissional e materialmente. Está certo que é conveniente pensar assim, em decorrência da situação do mundo lá fora. Mas nos esquecemos de nós.

Não mais escrevemos cartas, tampouco lemos aquilo que é do nosso interesse. Quando escolhemos ser profundos em nossos estudos, estamos optando pela superficialidade nas relações pessoais. Abdicamos de dizer ao nosso amigo que - e o quanto - o amamos, e ele morre sem sabê-lo. De infarto do miocárdio, de meningite, de acidente de carro, de asfixia ou de assasinato, ele morre.

Estacionar entre as duas vias da bifurcação é ignorância. É a opção de ser superficial em todos os aspectos. É parar de caminhar, sentar e aceitar a chuva, seja de água, seja de gelo, seja de canivetes. Escolher os livros é abdicar da felicidade coletiva e abusar de egocentrismo. Optar pelo ócio é ser tido como ignorante - até pelos próprios amigos - e escrever cartas ilegíveis. É como construir castelos de areia segundos antes da maré alta.

Não sei o que escolheria, se pudesse fazê-lo; se não me restasse a única opção da superficialidade total. Talvez, trancafiar-me numa biblioteca e aprimorar meu lado intelectual até a morte. Quiçá, ser feliz ao lado das pessoas e conhecê-las, mesmo pouco informado, falido e faminto, ser um "psicólogo de rua".

Por enquanto, é ideal que não se esqueça de nenhuma das partes. Ser, só por um tempo, ligeiro, leve e fraco. Frustrado. Mas, só por enquanto. Daqui a algum tempo, quando não formos mais crianças, declararemos uma revolução, exigindo direito ao tempo. Lutaremos pelo nosso ócio e zelaremos pela nossa criatividade.

Amém.

Victor é estudante do 6º semestre de Jornalismo na UnB.

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2 comentários:

Equipe Horário de Brasília disse...

Excelente! MUITO BOM o texto, Parabens!

Anônimo disse...

Bahia, gostei, e gostei muito!!!!!
Disse amém junto com você...