Poesia como ideal de Comunicação

Nova forma de se pensar a comunicação pela poesia ganha adeptos na UnB
por Cristiano Zaia

Razão-poesia. Assim se denomina a chave mestra utilizada para se ativar uma instigante e engenhosa máquina a serviço do homem, há muito corroída em seu processo criativo por engrenagens já desgastadas, que insistem em emperrar seu normal funcionamento. A máquina vem a ser o poderoso universo da comunicação, que acaba de ser pensado com manuseios mais sensíveis e menos alienantes. Na verdade, essas idéias já são postas em prática na UnB. Os “operários” são dois professores da Faculdade de Comunicação (FAC), Gustavo de Castro e Silva e Florence Dravet, fiéis defensores da poesia como forma de pensar a comunicação. Iniciativas contundentes que começam a tomar formato de proposta real concretizada no grupo de estudos de Comunicação e Poesia, ministrado semanalmente por ambos.

As aulas não têm pretensões iniciais de formular uma nova teoria ou de conseguir muitos adeptos, atende apenas aos realmente interessados em Filosofia, Literatura e Comunicação, aliado à poesia. Segundo o professor Gustavo, não há chamada, controle de faltas ou cobrança de avaliações. O grupo de no máximo 15 pessoas tem tido a oportunidade de ler textos de autores como Otávio Paz, Roberto Juarroz e Martin Heidegger, em aulas com duração de duas horas.

”Nossa motivação é a vontade de discutir a poesia como pensamento para tentar pensar a comunicação. A poesia é uma forma de traduzir a comunicação”, descreve Gustavo de Castro, que diz não ser muito receptiva a reação de alunos ou professores da área, dos quais, alguns até reconhecem a validade da proposta, apesar de acharem que ela não encontra meios de se concretizar. Muito embora, segundo ele, até já exista uma proposta semelhante dessa ideologia na PUC-SP, onde é ofertado o curso Comunicação e Artes do Corpo.

No mês de setembro, quando acontece o XXIX Intercom (Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação), em Brasília, eles poderão, enfim, expor suas idéias em Congresso Científico. A aceitação do pedido de participação no Núcleo de Pesquisas de Teorias da Comunicação do evento foi recebida com muita satisfação por Florence. “A poesia é a idéia de recriar a linguagem, como pensamento aberto que foge ao usual, ao rígido”, diz.

Os dois já têm alguns livros publicados nessa linha, em que desenvolvem alguns desses pensamentos e idéias. As obras principais que guiam seus estudos junto aos universitários são “Sobre o Céu da Cultura”, Arvorescendo” e “Filosofia da Comunicação- Comunicosofia”. É bom deixar claro que a idéia desse grupo de estudos não é a de cultivar o nascimento de uma teoria renovadora ou transformadora, mas apenas uma válvula de escape às teorias fechadas da comunicação, que segundo eles, tem se baseado apenas na mídia como forma de divulgação de seus conceitos.

A única turma reúne-se todas às segundas-feiras, de 12h às 14h. A torcida é para que a grande máquina da comunicação não enferruje seus movimentos. Mãos à obra, meus caros!