Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 22 de março de 2006

Coluna - Futebol

Vida longa aos reis?
por Vítor Matos

Diz a sabedoria popular que quem foi rei nunca perde a majestade. É verdade. Aquele que um dia já sentou num trono debaixo de uma coroa, mesmo deposto de sua elevada posição, carregará para sempre consigo a superioridade régia que o faz especial dentre os mortais. Luís XVI, por exemplo, perdeu o reinado, o prestígio e a cabeça; a majestade, contudo, manteve até o fim. Napoleão, por sua vez, perdeu a Guerra. Lula perde peso. A lista não pára por aí. Pepino, o Breve, rei dos francos na Alta Idade Média, perdeu a honra, mas não perdeu a piada. Adotou um epíteto que até hoje faz a alegria da rapaziada nas aulas de História.

No futebol não poderia ser diferente. Pelé, rei supremo do esporte, sempre perde uma chance de ficar calado. Suas gafes já são tão famosas quanto seus gols e, se continuar nesse ritmo, vai superar novamente a barreira dos mil, dessa vez no quesito “mancadas”. Outra coisa que Pelé perdeu ― e há muito tempo ― foi a conta de quantos filhos tem (Ele não perde tempo).

Adriano, o Imperador de Milão, perdeu a confiança. O que antes era uma perna canhota certeira e avassaladora agora não passa de um membro desengonçado e sem personalidade. Adriano está destro nos dois pés. Não acerta um bom chute há semanas. Parece que na Quaresma resolveu fazer jejum de gols. Todavia, ainda que seja ruim a fase que atravessa o jogador, não há motivos para pessimismo. Ele vem participando como titular de todos os jogos da Inter e, embora sem brilho, busca as jogadas, se apresenta pro jogo, chama a responsabilidade. Adriano está psicologicamente abalado, mas é jovem e já demonstrou inúmeras vezes o potencial que tem. É questão de tempo até o seu bom futebol voltar.

Já Ronaldo ― o Rei Momo ― perdeu mobilidade, arranque, habilidade e senso do ridículo. Ainda não perdeu a majestade, mas ela está hipotecada. O que surpreende é que só agora a imprensa e o grande público atinaram para o estado deplorável do futebol apresentado pelo ex-craque. O Fenômeno vem dando sinais claros de sua decadência há anos, basta analisar suas partidas a olhos frios. Desde sua contusão ― a não ser pela última Copa ― Ronaldo nunca mais foi o jogador brilhante de arremates precisos, passes inteligentes e de incrível explosão muscular que conquistou o mundo no final da década de 90. É difícil para o povo brasileiro reconhecer as deficiências de um ídolo, por isso é corrente entre nós a idéia de que o Fenômeno crescerá nos momentos decisivos, afinal “ele é um jogador de Copa do Mundo”. Que tal pararmos de tentar bloquear o sol com a peneira e começarmos a considerar um novo centroavante para o ataque da Seleção? Nos dois últimos torneios vencidos pelo selecionado de Parreira ― Copa América e Copa das Confederações ― Ronaldo não esteve presente (inclusive pediu para ser dispensado daquele último), e não fez falta alguma.

Um rei terá para sempre seu nome escrito na História, seus feitos serão lembrados com louvor ao longo dos anos. Suas conquistas, seu carisma, seu brilho, (sua majestade), são virtudes as quais ninguém jamais poderá negá-las. No entanto, assim como para todo ser humano, o tempo também passa para um rei. É nessa hora que, num último ato nobre de seu reinado, ele percebe que o cetro deve ser passado adiante. Um rei que vive só de batalhas passadas perde a serventia. Delendus Ronaldo!

Vítor Matos é estudante de Comunicação Social na UnB e reveza esta coluna com Guilherme Rocha às quartas-feiras.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Diz a sabedoria popular que quem foi rei nunca perde a majestade. É verdade."

"Já Ronaldo ― o Rei Momo ― perdeu mobilidade, arranque, habilidade e senso do ridículo. Ainda não perdeu a majestade, mas ela está hipotecada."

Explique-me essa contradição.

Anônimo disse...

Vítor, acho o seu texto muito gostoso de ler. Vc tem uma fina ironia e desenvolve muito bem as suas idéias. O texto é leve, quem não gosta de futebol lê sem problemas.

Só discordo quanto ao Ronaldo: acho que ele vai arrebentar na sua última Copa.

E, antes que eu esqueça, sei que não tem nada a ver com a coluna de hoje, mas...

Ricardo Izeckson é melhor que Ronaldo Assis.