Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


terça-feira, 21 de março de 2006

Artigo

O mito do super-homem
por André Souza

O super-homem é um ser fascinante. Tem uma visão que não se limita à luz visível, audição acurada, super força, não fica doente, pode se locomover no vácuo sem nenhuma proteção, suporta frio e calor, é veloz, e, o mais importante, consegue voar. Que ser humano nunca quis voar como um pássaro? Pois o super-homem (que, apesar de tecnicamente ser um extraterrestre, vive como um ser humano) consegue. Uma beleza. Se não bastassem todas essas qualidades e o fato de ser desejado por todas as mulheres heterossexuais, homens homossexuais e mulheres e homens bissexuais que convivem com ele nesse mundo virtual, o cara é um exemplo de boa pessoa. Salva a mocinha do vilão, prende os bandidos, não usa sua força para espancar ninguém, evita desastres, e volta-e-meia salva o mundo. Com um currículo desse, não há dúvida: o super-homem é o cara.

Talvez seja melhor não ser tão precipitado. Há dúvida sim. Todos sabem que o super-homem é um personagem e que existe apenas nos quadrinhos, televisão, cinema e outras mídias quaisquer. Não é real, nem poderia ser com todos os seus poderes. São praticamente nulas as chances de um extraterrestre vir à Terra em tempo curto devido às grandes distâncias no cosmos. Altamente improvável esse extraterrestre ser espantosamente parecido com um homem normal. Ridículo propor que um sol amarelo seja capaz de lhe dar aqueles super-poderes. Mas vá lá. A história do super-homem não foi criada para representar a possibilidade de um evento real, mas para ser uma fonte de entretenimento. A verossimilhança não é essencial, mas a qualidade da história.

Antes de continuar preciso deixar bem claro algumas posições minhas. Revelá-las me torna mais imparcial do que se pretendesse sê-lo sem torná-las públicas. O fato é que eu gosto muito mais do Bruce Wayne. Está certo que o Clark Kent é jornalista, mas eu não sou corporativista. O Batman é mais perturbado, mais complexo, mais humano. Enfim, mais real. Sim, eu disse que a verossimilhança não é essencial, mas creio que deve haver um mínimo de coerência com o mundo verdadeiro. O Batman, fora a fantasia ridícula de morcego e a figura mais ridícula ainda do Robin, se aproxima do real. Já o super-homem é inconcebível seja fisicamente seja moralmente.

Alguém que tenha tantos poderes se sentirá tentado a usá-los para fins particulares. Isso é fato fartamente comprovado pela história. Ainda assim, muitos adoram pensar na figura do ditador bonzinho. O super-homem, em suma, é isso, um ditador bonzinho. Mas ditadores bonzinhos não existem. Apenas em situações hipotéticas, como a do personagem que estou analisando. Se um homem entre nós adquirisse todos os poderes fantásticos de que dispõe o super-homem, ele sem dúvida os usaria em proveito próprio. Claro que ele poderia ter boa índole e ajudar mocinhas em perigo, mas com o passar do tempo suas barreiras morais seriam empurradas cada vez mais. Em algum tempo teríamos um Stalin piorado. Quem não precisa se submeter a ninguém ou a nenhuma regra ficará livre para fazer o que quiser.

Talvez alguns possam achar que eu seja descrente quanto aos seres humanos. Só posso dizer que essas pessoas estão corretas. Acho que o ser humano é, na média, desprezível. Só não é menos desprezível que os outros seres vivos, que conseguem ser mais medíocres ainda. Posso gostar de uma ou outra pessoa, mas temos que admitir: nós não prestamos. Imagine agora um ser desprezível com poderes absolutos. É o fim.

Definitivamente, o super-homem não é o cara.

Publicado em 28 de janeiro de 2006 em www.jogodeideias.blogspot.com

André Souza é estudante de Comunicação Social na UnB.

5 comentários:

Anônimo disse...

Reportagens do CACOM são divulgadas por site de extrema direita... por Gabriel Castro em 17 de março de 2006 no midia sem máscaras. É um absurdo este blog fazer matérias e ser usado por este site nojento.

Anônimo disse...

André, eu tenho um livro pra te emprestar então:

Complexo de Clark Kent - Seriam os jornalistas super-homens?

Anônimo disse...

Fraquim... Argumentação fraquinha... Tem alguns pontos aqui que estavam pedindo pra ser desenvolvidos e que não foram - o do Batman, por exemplo.

Não concordo que o ser humano seja menos desprezível que os outros seres vivos. Uma árvore tem muito mais valor que um puto de um humano.

André, tu não és o cara.

Anônimo disse...

Ótimo! Três comentários! Um deles fala mal e outro não tem nada a ver com o assunto. Seriam do mesmo anônimo o primeiro e o terceiro comentários?

Anônimo disse...

de sã consciência, pra q vc quer saber isso?

Carla