Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Coluna - Futebol

Nascido para jogar futebol
por Vítor Matos

Nos bares, nas praias, nos escritórios ― e em todos os demais locais onde houver mais de um brasileiro ― os tamborins começam a ser esquentados para a Copa do Mundo da Alemanha. As conversas acerca do time de Parreira borbulham em cada canto de cidade, os amigos definem seus quartéis-generais para os dias dos jogos e logo a primeira rua será enfeitada com fitinhas verde-amerelas. Um vidente diz que o Hexa é garantido, o Pelé solta uma previsão esdrúxula, toda vez que se liga a TV ouve-se “90 milhões em ação...”. Não resta dúvida: o país está vivendo aquele mágico momento que antecede um mundial de futebol.

A apresentação do novo uniforme canarinho na semana passada alimentou ainda mais esse clima de Copa do Mundo. Assim como o aperitivo antes do prato principal, serviu para atiçar nossa ansiedade enquanto o pontapé inicial não é dado. Aliás, boa parte da fleuma gerada em torno do uniforme deve-se ― até que enfim ― à sua beleza e bom-gosto. A camisa principal, por exemplo, é resultado de uma mescla harmoniosa entre tradição, simplicidade e imponência. A gola em estilo mandarim, os detalhes em verde nas mangas, o escudo da CBF deslocado do centro, tudo muito caprichado e digno de elogio. Contudo, a despeito de todas virtudes, o que mais me chamou a atenção foi uma discreta inscrição no canto esquerdo inferior da nova camisa: “Nascido para jogar futebol”.

O Brasil é um país de profundas diferenças regionais, abarcando várias culturas e distintos cenários sócio-econômicos. Um fator, contudo, consegue unificar os mais díspares recantos do nosso país: a paixão pelo esporte bretão. Não importa aonde se vá, as crianças ― ricas ou pobres ― estão jogando bola, os antigos relembrando os craques do passado, a TV transmitindo uma partida. Depois de nomes como Ilha de Vera Cruz e Brasil, adotamos com orgulho A Pátria de Chuteiras, marcando uma identidade reconhecida no estrangeiro e amplamente aceita nacionalmente. Dentro do universo criado pelo futebol, o gaúcho, o baiano e o amazonense sentem-se igualmente brasileiros.

Não sei se a Nike pensou nisso tudo quando bolou a tal frase. Talvez seja só mais um golpe publicitário, desprovido de fantasia. Mas quando presencio toda comoção em torno de mais uma Copa, a intensa expectativa pelo Hexa, as repentinas demonstrações de patriotismo, não tenho dúvida: nascemos para jogar, falar e ver futebol.

Vítor Matos é estudante da Faculdade de Comunicação Social da UnB e reveza esta coluna com Guilherme Rocha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não, não e não. Não nascemos para jogar, falar e ver futebol. Recuso qualquer tipo de determinismo geográfico ou biológico. Tampouco concordo com aquela frase ridícula que há no uniforme novo da seleção de futebol. Não, o futebol não é uma desgraça, mas tampouco a salvação desse país. É, antes de tudo, uma forma de diversão.