Notas Expressas

Tivemos um enxugamento do nosso corpo de repórteres, mas estamos, aos poucos, retomando o ritmo de publicação de matérias.
(atualizado em 20 de outubro de 2007)


domingo, 12 de fevereiro de 2006

Artigo

A montanha da ignorância
por Gabriel Castro

Quando o Cristianismo era apenas uma crença restrita a uma pequena e insignificante região do globo, seguida por algumas poucas pessoas, pobres e sem importância, Jesus disse que todos os povos teriam a chance de ouvir a boa nova da salvação por meio do Evangelho. Um punhado de aldeões havia criado uma religião e prometia que ela se espalharia por todo o mundo.

Como se já não fosse fabuloso e espetacular profetizar algo assim, no mesmo sermão, Jesus Cristo advertiu: "Nos últimos dias, os cristãos serão perseguidos, maltratados e enganados. Muitos perderão a fé." Após a expansão do Cristianismo, e depois das tormentas e das perseguições, então voltaria o Senhor. Estava criada a única religião que não só apostou na própria decadência, como também tornou dela dependentes as suas crenças.

Jesus tinha razão na primeira profecia: o Cristianismo dominou o mundo e os últimos países são evangelizados. A segunda profecia parece já estar em andamento: além das perseguições aos cristãos recorrentes em países como a China e o Irã, nota-se que o Cristianismo começa a perder força justamente onde chegou a ter mais influência: na Europa Ocidental. Ao mesmo tempo em que cresce como nunca na Ásia e na África, em seu mais tradicional reduto o Cristianismo vai habituando-se às brigas com o crescente movimento ateísta.

Curiosamente, nos EUA não se observa o mesmo fenômeno: apesar de haver lá também um anti-cristianismo atuante, os cristãos têm tido força suficiente para reagir. É isso o que começaram a fazer há cerca de 20 anos, num movimento que cresceu ainda mais nos últimos cinco. Os Estados Unidos são o berço de duas vertentes "empíricas" do Cristianismo: o pentecostalismo protestante e a Renovação Carismática católica. Ambos apostam na manifestação dos mesmos dons que Cristo operava há dois milênios. E é, de certo modo, mais fácil crer em Deus quando se observa curas, aparições e milagres de todo o tipo. Não há nada de irracional nesta fé. Enquanto na Europa se gasta tempo discutindo em debates demasiado abstratos, perdidos em filosofias sem resultado, os americanos preferem investir nos indícios práticos das intervenções divinas. Este era, aliás, o método que o próprio Cristo usava para provar-se filho de Deus: apontava para seus milagres. Talvez por isso, o Cristianismo na América demonstra muito mais vigor do que no Velho Continente.

Quanto mais profunda e complexa se torna a discussão sobre a existência de Deus, mais inútil ela fica. Não que seja difícil encontrar Deus na Filosofia ou na Física (Ele é grande demais pra conseguir se esconder). Mas certamente o Senhor não se sente à vontade em cátedras ou academias. Uma das mais sublimes passagens da Bíblia é aquela em que Cristo, falando da Revelação divina, diz : "Graças te dou, ó Pai, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos." Para quem tem perguntas, a resposta não está na sabedoria refinada: está no prosaico. A verdadeira fé não depende de estratagemas complexos, e muito menos de raciocínios avançados. Ir neste sentido é seguir o jogo dos ateístas, que normalmente moldam o debate dentro de seus próprios critérios para depois alardearem uma superioridade lógica que na verdade não existe senão dentro de suas cabeças.

Neste caso, não hesite: fique com Robert Jastrow, fundador do Instituto de Estudos Espaciais da Nasa: "Para o cientista que se pautou pela fé no poder da razão, a história termina como um sonho ruim. Ele escalou a mais alta montanha da ignorância; está prestes a conquistar o pico mais alto; ao transpor a última rocha, ele é saudado por um grupo de teólogos que estavam sentados lá há séculos."

Nota do editor: O Blog do CACOM, além de mostrar notícias da UnB, é um espaço para os estudantes mostrarem seus trabalhos e produções. Mande-nos seu texto.

Um comentário:

Anônimo disse...

:) Há uns anos, minha mãe comentou sobre esse assunto... incluiu um comentário que me lembrei ao ler este texto.
"A Ciência sempre tenta ser o mais lógica possível. tem vezes que não é possível saber algo em determinada época da Humanidade, mas depois, talvez seja. Há vezes em que a Física tenta provar a racionalidade existente nas pequenas coisas e tenta separar a idéia de origem divina... e então chega a um ponto que não adianta mais calcular porque nós não temos fórmulas suficientes para provar nosso ponto de vista, e a Física começa a tender à Deus... talvez mais tarde, os físicos reabordem o assunto e cheguem um pouco mais longe do que chegaram hoje"

ela falou algo do tipo. eu sei é que... assim como tem quem crê, tem quem não crê. E tem quem oprima e tem quem seja oprimido. mas aí já são homens que dizem fazer algo em nome de Deus, e de suas crenças. Mas tem uma grande massa querendo impor crenças alheias a nós e é isso que me incomoda.